Eu me vejo
manchando o teu vestido de casamento com o vermelho sangue de meu ciúme doentio
– calma, sem páginas policiais: apenas a taça do vinho que a gente não tomou
porque você estava tão atrasada pro fatídico dia da noiva, eu te dei carona e
nem cobrei a gasosa. Então vai meu bem ficar tão lindamente atrasada pra gente
brincar de rasgar vestido no ato consumado da festa da tua felicidade muito bem
disfarçada pela pesada maquiagem cara, champanhe e padrinhos que gastaram uma
graninha besta em presentes pra te ver feliz nas fotos do futuro álbum. Nem
aquela cena ridícula de novela das oito existe mais nas igrejas pra eu te
condenar, aquela que o padre pergunta se há alguém que tenha algo a dizer
contra esse casamento que fale agora ou cale-se para sempre – diria mataram o
mensageiro do amor com um tiro certeiro no peito, e, menos poético, teu noivo
comeu tua prima por trás na tua cama ainda quente de manhã enquanto você tomava
banho, tua família é uma farsa de corruptos e gente de passados duvidosos, você
é a única que presta um pouquinho pra uma traiçãozinha nada demais antes do
casamento... Mesmo na Santa Igreja não saberia mentir tanto. Casamentinho de
merda! Me devolve então a grana Maria gasolina, Maria mãe de um deus que não
acredito, Maria vai-com-as-outras-foi-comigo, ah, Maria! Eu te amaria tanto se
você não dissesse sim, carregaríamos garrafas pelas ruas e cairíamos esquinas
pelas noites sem fim até que alcançássemos a cama mais uma noite, a gente
gritando urros de prazer na madrugada até o amanhecer te chamar praquele
empreguinho de merda e o meu eterno vagabundear fingindo trabalhar numa redação
de jornal. E só te trairia com escritos mais românticos, não marginais. E você
se ofenderia. E por vingança finalmente se casaria, certa de querer ser
eternamente infeliz.
CRiga.
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