segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Ele não era um cara legal

Eu não vi as flores nascendo do asfalto,
que é só onde sei procurar.

Na mesma galeria ninguém me disse nada, 
algo que eu pudesse guardar.

Eu não ouvi a música da moda,
nem sou o idiota popular da roda.

Eu sou é o vidro que corta,
em vez do falso brilhante.

CRiga

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Vontade de escrever? Minta um pouco…

Você pode escrever sobre o que quiser. Só não escreva sobre si mesmo – esta pessoa em quem você não pode nunca confiar… 

Se insistir, mentirás. Mentirás até que convenças a ti mesmo que a verdade a gente inventa só pra ser feliz. Uma verdadezinha inventada não faz mal pra ninguém, vai…

Então escreva sobre a vida dos outros. Invente vidas batendo de frente, gente morrendo no final da história. E espíritos de almas mal-resolvidas que resolvem atormentar outras tão mal resolvidas quanto. E ponha uma saída triunfal, daquelas que levam a bengala de cedro de verdade da sala – um vivo veria apenas a bengala boiando boiando atravessando a porta aberta. Isso dá prêmio de literatura na cidade onde moro.

Use muita metáfora, muito código, muita escrita que parece sem nexo – parece chique não fazer-se entender, porque às vezes até dão prêmio pra isso na ABL.

Ponha uns versos no meio, tipo poeta maldito. Palavrões também parecem adequados na modernidade.

Separações, amores imperfeitos. Não esqueça da menção a uma música antiga.

Fosse escrever sobre si, a verdade é que ninguém talvez quisesse saber. E, convenhamos, não fica bem: você ficar sozinho numa tarde chuvosa, com aquele papelzinho besta às mãos, perdido num ponto de ônibus qualquer, sola e guarda-chuvas furados, um terno velho cheio de bolinhas e um conhaque pela metade. Faça-me o favor de parar com esse melodrama, batidamente lindo, mas melodrama de escritor maldito. E caia logo à sarjeta, deitado junto à centena de cacos e uma folha de papel molhada na poça. Ninguém vai chamar o resgate. Assim você vai morrer.

E se os borrões no papel permitirem, aí estará um novo sucesso de literatura. Mas você já estará morto. Mas você não deve querer morrer. Por isso, viva a vida de outrem, que morre e revive conforme a conveniência do seu acordar. Mas mate um a cada dia, e faça (re)nascer outro pra morrer no próximo amanhecer de asfalto molhado. Assim você mata a vontade de escrever outra bobagem, e não corre o risco de ser traído por si mesmo – essa pessoa em quem você pode nunca confiar.

CRiga

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O Auto da Aparecida


o auto da aparecida
no alto do trem da vida
narcisa queimada viva

talvez tenha gritado algum deus
que preservasse vivo
seu aparelho celular.

(Romena é eletrocutada ao tentar tirar a 'selfie definitiva' no alto de trem - 12/maio/2015 -
Veja a reportagem)

CRiga



quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Melhor era a TV Pirata!



Não se faz mais telejornal como antes.

Os telejornais, principalmente os matutinos, estão muito chatos. Na “moda” de tentar descontrair a sisudez dos apresentadores, sob o pretexto de atrair a tal Geração Z (outra idiotice sem tamanho!), força-se uma barra tremenda. Gente sem o menor cacoete pra sorrir e “brincar seriamente” (já que estão em telejornais) no ar passam papel de ridículo frente os telespectadores.

Ou você acha que o Rodrigo Bocardi é esse cara legalzão que pinta no Bom Dia São Paulo e Bom Dia Brasil? Continua engessado, e força demais os comentários “descontraídos”. Quando critica, perde as estribeiras e fica feio. De tanto pegar no pé de Barueri (“mais uma vez Barueri...”, ele começa assim), por exemplo, chegou a soltar um “ô Prefeitura de Barueri, ajuda o pessoal aí” numa notícia que se referia a Carapicuíba, ao lado de Maria Júlia Coutinho "Maju". Eu assisti a isso ao vivo, ninguém me contou.

Glória Vanick parece já estar treinando pra conversar com o bebê que está esperando – ridículo assistir a ela dando boletim de trânsito com vozinha de menina chata. Mais ridículo quando ambos ficam apostando: “Ah, Glória, acho que já passou dos 500 km de congestionamento na cidade”, ao que a quase mamãe responde já maternalmente: “vamu vê então o índici de congestionamento, vamu?”.

Todos na fogueira? Não. Monalisa Perrone tem a descontração e o profissionalismo nas medidas certas, e não parece forçar a amizade.

César Tralli, apesar da carinha de burguês que nunca será seu amigo (apesar de sua forçada descontração querer vender que é), é muito bom âncora e não perde as estribeiras nas críticas, são proporcionais à seriedade do assunto. Péssimo é incluir na grade do SPTV 1ª edição essa porcaria de “geração selfie” – sinceramente, você quer mesmo saber o que o adolescente ou jovem tem “filmado” com seu celular em qualquer canto da cidade? Ora, ora, que idiotice de “noticiário”!!!

Voltando às manhãs. Quando acaba o Bom Dia Brasil, vou ao Café com Jornal. Sofrível, apesar do Megalli, e ruim com a Laura Ferreira. Há bom noticiário, mas a fórmula original ficou ruim: muita mescla com revista de fofoca e comportamento –  quase vira de “Café com Jornal” para “Café com Bobagem”. A Globo, pelo menos, tem programas especiais para isso, não enfia essas coisas nos telejornais – afinal, se você liga sua tevê num telejornal, quer ver notícia, não é?

Pior é quando o Café com Jornal enfia jabá da Band no meio. Coisa mais irritante é querer assistir a notícias e os caras forçando a barra mostrando a noite anterior do Master Chef! Que jabá mais pobre e podre! Ridículo incluir isso (e estreia de novela de 5ª categoria) em um dito telejornal! Parece coisa de amador, coisa de quem está começando agora.

Pode até parecer crítica de alguém (como é que as “celebridades” dizem mesmo)?... ah, recalcado –  é o termo da moda para justificar suas próprias incapacidades de lidar com o ridículo e o imoral (este, no caso dos ostentadores). Mas não é. É crítica de jornalista para jornalista.

Ninguém está pedindo que engessem novamente os telejornais. Mas, colega, não force a amizade!...


CRiga



terça-feira, 25 de agosto de 2015

Cafajestes


(De "Ode ao Exorcismo & Cafajestes")

Eu me vejo manchando o teu vestido de casamento com o vermelho sangue de meu ciúme doentio – calma, sem páginas policiais: apenas a taça do vinho que a gente não tomou porque você estava tão atrasada pro fatídico dia da noiva, eu te dei carona e nem cobrei a gasosa. Então vai meu bem ficar tão lindamente atrasada pra gente brincar de rasgar vestido no ato consumado da festa da tua felicidade muito bem disfarçada pela pesada maquiagem cara, champanhe e padrinhos que gastaram uma graninha besta em presentes pra te ver feliz nas fotos do futuro álbum. Nem aquela cena ridícula de novela das oito existe mais nas igrejas pra eu te condenar, aquela que o padre pergunta se há alguém que tenha algo a dizer contra esse casamento que fale agora ou cale-se para sempre – diria mataram o mensageiro do amor com um tiro certeiro no peito, e, menos poético, teu noivo comeu tua prima por trás na tua cama ainda quente de manhã enquanto você tomava banho, tua família é uma farsa de corruptos e gente de passados duvidosos, você é a única que presta um pouquinho pra uma traiçãozinha nada demais antes do casamento... Mesmo na Santa Igreja não saberia mentir tanto. Casamentinho de merda! Me devolve então a grana Maria gasolina, Maria mãe de um deus que não acredito, Maria vai-com-as-outras-foi-comigo, ah, Maria! Eu te amaria tanto se você não dissesse sim, carregaríamos garrafas pelas ruas e cairíamos esquinas pelas noites sem fim até que alcançássemos a cama mais uma noite, a gente gritando urros de prazer na madrugada até o amanhecer te chamar praquele empreguinho de merda e o meu eterno vagabundear fingindo trabalhar numa redação de jornal. E só te trairia com escritos mais românticos, não marginais. E você se ofenderia. E por vingança finalmente se casaria, certa de querer ser eternamente infeliz.
 

CRiga

Notícias do Brasil







Triste é a nação que implora notas azuis dos “professores” destas tais agências de investimento. Triste submeter-se refém a esta coisa imaterial do especulation – o falso inglês ajuda a fazer acreditar que isso de fato vai mudar a vida de todo mundo.

Triste ver que o retrato do Brasil de hoje é Lindbergh Farias sorrindo ao lado de Collor – pior, sabendo que o “líder cara-pintada” também está metido na lama da corrupção.

Triste ver gente implorando pela ajuda do governo nas agências em greve do nascido-falido INSS – ou você acha que três meses sem pagar benefícios também não é lucro pro governo depois fazer política e brincar de novo com a vida das pessoas?

Brincar com a vida das pessoas... Quanta gente desempregada porque a ganância pelo poder em tempo de voto escondeu a crise e adiou os “ajustes”. Bem da verdade, até esta “oposição” que denuncia a brincadeira – cá pra nóis! – faria a mesma coisa. Afinal, o poder dá esquemas muito mais interessantes.

Por isso que não leio artigo de jornal escrito por político. Carregado, cheio de argumentos que enchem o peito de qualquer um que não esteja no poder. Mas que carregam em si a vontade verdadeira de estar sendo criticado – mas na cadeira principal, colhendo os “trocos” dos mesmos esquemas.

Triste ver que usam sempre a palavra “democracia” contra a palavra “golpe”, como se na primeira conseguíssemos enxergar a resolução dessa patifaria de brincadeiras. No golpe também não se enxerga positividade. Mas como não desejar a morte dessa gente mofada que mente, desvia, esconde, corrompe, ostenta... enriquece?

Como não aprovar o ato do cliente da Nextel que destruiu a fachada de uma loja no Rio, porque não conseguia cancelar a porra do seu plano?

Como não sorrir de cantinho quando, no interior de Rondônia, 300 param uma viatura, tiram o estuprador de lá e o matam a pauladas e pedradas? – ele violentou uma menina de 9 anos e matou a facada o irmãozinho de seis anos que tentou defendê-la.

Mais triste de tudo é não ter alguém ou algo em que acreditar. É daí que nascem as manifestações da “justiça” popular.

E é triste querer que essa mesma justiça dê jeito nos caras-de-pau. Triste, porque voto, por enquanto, não é arma nenhuma da democracia de um Brasil perdido e melancólico.

Até protestar é algo que se deve tomar cuidado hoje em dia pra não se manchar – a tal oposição abraçou o dia 16 de agosto, tomando para si a missão de “convocar o povo às ruas” – ora, ora, vão à merda, cambada de gente oportunista!

Não ao golpe. Não à violência. Mas “sim” a quê?

CRiga