quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O caroço da falange


Da torre me abandono,
minha névoa de romance.

Há um belo e explosivo apocalipse,
boas pessoas me pedindo ajuda
e desculpas.

Missão cumprida, minha nave
precisa agora me deixar pra trás –
aqui sou terra seca, inabitável.

Viajar galáxias até a morada
onde dedos afundem na terra a energia
e nos teclados só o preço do adubo.

Nestas mãos que contam histórias,
conto os carocinhos, agosto é 31!
Mais um dia, mais um
não sei saio tão vivo assim.

Mas há primaveras-ficções que salvam
insistem na raiz, são trepadeiras
forçam espaço dentro de mim.

É estranha e boba a esperança...
Setembro já grita entre as falanges
anunciando coloridas novidades
na minha alma
o meu jardim.

CRiga.



terça-feira, 29 de agosto de 2017

Boneco de areia


Falta-me o aroma de flores selvagens,
espinho de flor no coração,
gota de sangue manchando o papel.

Há muito ácido corroendo os dias
e hoje sou um devedor aos jardins.

Inverno, agosto, falta tempo.
Uma nova canção, o fogo da paixão.
Falta a tempestade me irrigando.
Sementes secas gritam socorro.

Terra árida vira pedra,
e eu prefiro chorar solto no cais
a não sentir nada mais.

CRiga.



quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Antolhado


Há um ritmo de trem no trilho
que coloca as coisas no lugar.
Que envenena a carne
congela a cama
entorpece a idade.

Hoje um sol de dia de semana
veio me lembrar que ainda há o que fazer.
E eu voltei a trabalhar lá fora
na varanda menos fria
olhando o mundo acontecer
cada coisa em seu lugar.


CRiga.


quarta-feira, 23 de agosto de 2017

De tempos em tempos (mitologia)


O piso mármore do inevitável mausoléu
quer apresentar mais um Deus pra mim.
Uma provação, uma oração.
Baixe a cabeça, cordeiro,
só quem tem cruz no peito
é que tem jeito pra chegar aqui.

O caminho que busco dali
é porque não quero chegar a lugar algum -
este, escrito linhas de um livro humano
que já matou quem não quis ler.

Caminho meu é porta dos fundos,
saída de emergência.
Não preciso das auréolas de liquidação
brilhando luz de led na escadaria principal.

Que falta fazem os pés no chão,
as mãos agarradas aos problemas
pra quem só pede solução.
Que falta fazem os deuses do Olimpo
muito mais lindos que os feios hebreus.


CRiga.


terça-feira, 22 de agosto de 2017

Seco


Se apertar o peito é “crec”,
espremer a alma
não é lágrima que cai.

Amigo é o aroma do asfalto molhado,
mas a estiagem tão cedo já silencia.

É pouca, rouca esta poesia
que gritava louca todo dia
me liberta desta alma
desta pobre rima que salva.

Jardim de terra empedrada
rosa marrom enrugada
cheirando a velório sem cheiro
na gaveta emperrada no coração.


CRiga.


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Casulo


Há uma sensação que persigo,
abrigo, dever cumprido.

Há uma sensação que devo muito.
Perigo, eterno medo de desiludir.

Ninguém nunca me viu por dentro.
Daqui saem etílicas borboletas,
secos dragões sem fogo cujos sorrisos
são sinceros e preocupados.

Haverá memórias de fogueira
distantes, não farão revoluções.
Dúvida é se existirá um jardim amnésico
cujas rosas não peçam documento
pros beija-flores da madrugada.

Eu tenho idade, só não tenho tempo.
Quero beijar sem culpa, de barba,
voar sem horários de museu.
Não quero crianças fingindo interesse,
nem a cor forçada na exótica fotografia
calando as verdades das minhas rugas –
elas poderão com falsa propriedade
recitar poemas ou apenas te enganar.

Nunca pisei o chão da maioria dos pés,
nunca vivi o tempo das verdades eternizadas
enlatadas numa festa de jubileu.

Eu durmo num casulo eterno.
Inferno pra mim
é me tornar.

CRiga.


terça-feira, 15 de agosto de 2017

Cachorro louco


O que rega a terra seca não vem
com a chuva cereja da maldição
no agosto das almas cruas.

Letra que nasce morta
na boca apertada
onde os lábios ainda se cortam.

Nada desbanca a aridez estampada
na rachadura do asfalto muito caro.
São duros os dias de semana
que não dizem mais que sobreviver.

Quem sofre é quem tem abrigo
e nada além do silêncio
para compartilhar.


CRiga.


quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Água leve leva lava a lama d’alma


Nasci e cresci calado.
Quando grito eu urro.
O silêncio ainda é de ouro.
O touro também fere.
A fera ainda sente.
Ainda mente pra sobreviver.

Não há louça que fale mais alto.
Há uma criatura que grita rouca
a rima solta da lucidez.

CRiga.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Um flashback



O que não te acontece mais aos ouvidos,
muitas vezes a alma escuta, lá no fundo
pedindo um segundo da tua atenção.

Há um tapete de ácaros dores encrustadas.
Debaixo não há o pó do arrependimento,
apenas o piso frio de uma inocente solidão.

O que não te acontece mais nas pontas dos dedos
talvez seja o restinho do doce brigadeiro
que a língua adolescente não aproveitou.

Há um poema que precisa te pegar no rosto
dizer o quanto sinto muito o desperdício.

Reviro discos e canções,
e a agulha agora falha.
A ilustre amiga traiçoeira
que não me deixa me sentir
mais sentimental.

Me dá uma lua risquinho no céu, um sorriso
me devolve aquele restinho de eternidade
um dia guardada confiante
na gaveta de nossa juventude.

CRiga.



terça-feira, 8 de agosto de 2017

Vácuos na segunda


Necessário às vezes fugir da segunda-feira,
uma curva à esquerda, o sol da manhã,
à direita cuidado com o excesso de confiança.

Não inicio semanas com esperança de vencer.
Há uma certa calma que me orienta,
e eu não tenho mesmo os pés no chão.

Decidi aceitar as roupas de guerra
até enquanto permaneço na trincheira
deste frio apartamento que me convém.

Também vejo a terra prometida, o caminho,
o pó que a gente come na nossa estrada.
A entrada tem uma porteira capenga
que sempre nos dará as boas-vindas.

A espera é santa, ela canta aos ouvidos
o som que os carros na estrada dos Romeiros
não engrena nem engana
no caminho longo até a paz.


CRiga.


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Cinco minutos


É o que me resta, uma rima, um clichê
pra de novo eu não falhar com você.

No relógio os ponteiros me perseguem,
olhos vidrados, estrábicos, diabólicos
querendo me fazer errar.

O DNA cinza encrustado nestas horas
me frita, me desumaniza.
Respiro fundo no tic do primeiro segundo
e morro triste amaldiçoando
o impiedoso tac que me flagrou 
cinco minutos atrasado.

CRiga.   



quinta-feira, 3 de agosto de 2017

A vida parece brincadeira


Quebro cabeças,
meu filho quebra brinquedos
e a vida continua.

Equilibro pedrinhas,
há um ritmo pra construir o castelo
e outro pra não deixar ruírem contratos.

Jogo com as palavras,
mas o tribônus algoritmo on-line
são apenas dragões de um tabuleiro.

Visto camisas de guerra,
e uniforme de escola jogado
não pode mais incomodar.

Mentira boba que me sinto bem,
você tão concentrado em só vencer.
Vem perder comigo o jogo perdido
debaixo da cama,
o tempo que não temos.

Isto tudo meu é pra você.
Isto tudo teu é pra me fazer
vivo, reviver.


CRiga.


quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Vestimenta do dia


Lapido letras que valem o dia de cada leão morto.
Vejo espíritos refletidos no vidro da sacada.
A censura sobre as letras que não dão dinheiro.
Então me escondo, revejo prazos, e me flagro alma incompleta.
Dedicar-se, quanto tempo pra cada coisa?
Planos me fogem do controle feito areia solta ao vento.

Rápido, letras fogem para marcar o papel!
Leões rugem da cova que eu tapei com o rascunho.
Não havia o sobrenatural pra me assustar, inspirar.
O dia acaba, a noite vem com seu ar de ordinária.
Dedicar-se a que se a calma convém?
Panos de prato secam os pratos.
Roupas de escritório escondem o pranto.

Até a tecla off ainda foge de mim...


CRiga.


terça-feira, 1 de agosto de 2017

Todo o céu para você


Menina distraída não viu o cometa.
Cometeu o erro de procurar felicidade
na esquina onde a alma curta
só foge da simplicidade.

A paz era apenas um só anel de Saturno,
não precisava esperar rubi presente
do namorado que faltou ao encontro.

A lua cheia sorriu cheia de esperar
a busca pouca nem que fosse 
romance de novela
aquele tão fora do alcance dela.

Carnaval de astros e estrelas,
mas ela só via um menino nunca olhar.
Insistia no dia moribundo
da cidade que não sabe ser grande.

Grandes são os olhos de quem sonha.
Quem inventa no zodíaco borrado
uma história inspirada
em querer amar de novo.


CRiga.