É o inverno que muda as coisas, me faz
lembrar de você de novo como se eu fosse a culpada por não ser feliz. Talvez
seja mesmo, talvez você nem se lembre mais de mim, então remexo velhos pertences
e não me encontro, só encontro você. Remexo números, não te encontro, ligo à
telefonista, simpática, quase chora comigo, esses homens que nos esquecem são
foda... Esse é o número mais próximo, então ligo, você não está mais lá, mas
alguém diz “ele está em tal lugar”. A telefonista me dá então a porra do número
do tal lugar, sem certeza penso te encontrar, alguém atende pelo teu nome, te
encontro, é você, meu antigo amor!
Simpático como sempre! Casado, mas
simpático. Com um filho, mas tão amoroso como sempre. Mudei de casa, você não
sabia, e você me disse que foi me procurar numa noite com flores e vinho às
mãos, e que por isso não me encontrou. Mentirinha bonitinha, me conquistou. Que
saudades de você, do seu beijo, do seu abraço, do seu amasso. Acho que
aproveitei pouco, muito pouco, não te dei devida atenção, eu sei, me arrependo,
sou libriana, quero tudo vindo, quase nada indo.
Mudei de jeito também, você não sabe? Não
saio mais em tantas baladas, parei de fumar, me conheço mais, gosto mais de
mim, estou só um pouquinho mais gordinha, sem tanta diferença, acredite, estou
mais bonita. E não cavalgo mais, você acredita? Eu também. Só falta você pra
completar, mas não tenho coragem de dizer. A vida cavalga, eu parei.
Determinado momento você disse que é
importante agarrar as chances quando elas vêm. Não esperar que aconteça, apenas
estar esperta para a hora que acontecer. Sei que não foi por querer, mas parece
que isso me feriu lá dentro, sem você perceber. Eu sei que não foi por mal, meu
amor, nada vai me fazer tão mal quanto esta vontade de te pedir desculpas sem
tempo, essa vontade louca de voltar no tempo e te agarrar, esperar que aconteça
e estar esperta para fazer acontecer.
Bem, me ligue um dia também. Vamos sair,
quase eu disse, tomar um chope, você não pode, agora tem família e não vou
insistir. É errado, nem sei se tenho coragem. Acho que teria, te beijar de novo
como antes valeria. Matar-me mais um pouco por não ter você, recriar-me por
segundos eternos nos teus braços que um dia me tiveram mulher.
É o inverno que muda as coisas assim, faz a
gente amanhecer cinza com saudades do passado que passou entre os dedos, feito
areia de ampulheta que a gente não agarrou. Eu te amava e não sabia, me perdoe,
meu amor. Seja feliz, seja feliz, vou desligar. Eu ainda tenho a poesia que
você fez pra mim, preciso desligar pra não chorar. A vida cavalga, eu não
mais...
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