quarta-feira, 28 de setembro de 2016

A presença


O dia cai cinzento como tristeza
como quarta-feira sem eira
nem beira.
E você insiste
existe
mas não te vejo
nem te ouço
só te sinto.

Mas sinto muito
a quarta-feira fim de mundo
com gosto de eternidade distante.

E você insiste, senta ao meu lado
tenta me acalmar.
Mas a calma é triste também
porque acalma e conforma
e eu não quero me conformar.

Tive que sobreviver
merecer
as asas guardadas
debaixo da camiseta.

De bagagem já sem nada
parada na estação,
você me espera com um sorriso
um beijo guardado
e um verso de antigamente.

De bagagem ainda pesada
corro estação por estação
esperando te encontrar
com o sorriso de sempre
o beijo ainda molhado
e o verso que você me cantou.

De passagem nesta terra
vou deixando o peso da bagagem
estação por estação,
até encontrar-te com a roupa do corpo
feridas cicatrizadas pelo tempo
e nos olhos o verso que é eterno.

Me espera, já estou chegando –
olha a fumaça do trem
olha eu acenando de longe
esvaziando minh’alma
dos pesos do caminho.

Escuta o trem apitando –
trago comigo o que é seu
tens contigo o que é meu.

Por enquanto, até a próxima estação!
E um obrigado por existir
e salvar o meu dia
todo dia.

CRiga.

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