terça-feira, 27 de setembro de 2016

Tossindo sangue


Colecionava selos
de cartas não respondidas.

Na caixa do correio um ninho,
alimentava pássaros e ilusões.

Da janela,
as estrelas cadentes que contava
eram desejos que não valiam a pena.

Na calçada,
pra cada sorriso não devolvido
mais uma moeda na cartola do artista.

Em casa, em qualquer lado,
uma parede vazia.
Um Renoir havia debaixo da cama.

Doíam amores de ficção –  
o que era verdade
virava invenção.

Viveu encostando as costas
no mofo do porão.

Morreu tossindo sangue
romancista de plantão.

CRiga.

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