sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O crime perfeito


Talvez eu não tivesse o direito
de enterrar assim o velho amor.
Talvez ele nem estivesse morto.
Talvez ainda respirasse moribundo
dentro do caixão.

Mas antes que eu pudesse me arrepender
no cemitério, no meio do caminho,
feito ressureição,
lá estava ele, o amor – 
imponente
inegável
jovem e belo.

O que fazer?
Correr, ignorar?
Eu não sei rezar...

Olhei no fundo de seus olhos claros
como quem se esforçasse
em reconhecer um rosto esquecido
depois de muito tempo.

E então
ressuscitei!

Eu não sabia, mas me enterrara também
naquela mesma tumba cujo epitáfio
trazia em letras garrafais:

“JAZ AQUI
O AMOR QUE É ETERNO”

CRiga.
(Caderno Azul, 1997)



Nenhum comentário:

Postar um comentário