terça-feira, 19 de novembro de 2019

Amaresia


João de Nada nadava no mar
tentando juntar
os cacos de sua vida –
pedaços de uma fotografia
rasgada por insensatez.

João de Nada não amava mais
e resolveu abraçar o mar,
feito quem abraçava pela primeira vez
o primeiro amor de uma vida inteira.

João de Nada nadava no mar, lutava –
a vida parecia o horizonte perfeito
e então nadou, nadou e nadou...

João de Nada em sua última braçada,
a fotografia rasgada colada na pedra do cais,
não precisava procurar mais nada.

Porque a vida já não era nada
e João era todo o desencontro existente.

Quando o sol se pôs no horizonte
e João de Nada não era nada mais,
ele também já não nadava mais.

Foi uma última brisa que viera lhe soprar
que sua vida já era tempo
de acabar.

Soprou
que João de Nada
não sabia nadar.

Mas que João de Nada
sempre amou o mar.

CRiga.
(Caderno Azul, 1997)




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