quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Fronteira


O trem no subúrbio passa implacável
como um monstro de aço.
Estremece feito terremoto
as casinhas de papel.
Sacode os frágeis tapumes
em forma de abrigos
da favela fantasma.

Mas a arquitetura improvisada,
arte eternamente sem dinheiro,
não cai.
Imponente (do seu jeito) joga nas caras
a sofrida sobrevivência.

Porque a pobreza é assim:
enquanto não descarrila o trem
pra dentro da favela fantasma,

tudo é
cotidianamente
apenas transparente.

CRiga.
(Caderno Azul, 1997)


Nenhum comentário:

Postar um comentário