terça-feira, 28 de junho de 2016

Poesia de computador (parte 2)


Saiu com pressa
adulto em busca de assunto
na papelaria do beco do Centro da cidade.

A mocinha crente bonitinha
já nem trabalhava mais lá.
Voltou clandestino escondendo na blusa
um novo caderno azul
brochura mais bonita
que na juventude de bar em bar.

Queria mesmo desatar novamente
aquela poderosa cachoeira poética –
água explodindo nas rochas do espírito,
cada cristal espocando no ar
marcando linhas, um poema por minuto.

Verdade
é que nenhum novo caderno azul
lhe daria de volta a vida pulsante –  
a vida já escrita
não dá segunda parte de romance.

Os petardos viraram mono letras estéreis,
a força das águas, um banho quente vulgar –
apenas dormir sem mais sonhar
com a moreninha da quinta série.

Agora apenas a sombra de um pai ausente,
é ela quem maltrata os filhos do filho;
agora apenas o sorriso de uma mãe sem sal,
descobriu-se açúcar tardio no café já frio.

Criança precisa de carinho e de caderno novo
pra rabiscar e colorir faz-de-contas.
Precisa do brinquedo escrito na carta
do papai que não o Noel,
precisa de véu de cachoeira no verão
e de bolinhas de sabão.

Eu não preciso é dos bits desbaratinando
estas tardes agora perdidas,
procurando sentido no canto das palavras.

Não preciso deste homem feito
desenterrando memórias de computador.

CRiga.


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