Com o pouco
que sobrava de seu salariozinho, conseguiu juntar uns trocos e comprar aquele
vestidinho vermelho que namorava há tanto tempo na vitrine, da loja ao lado do
restaurante onde trabalhava como garçonete. Nem havia mais vestidinho na
vitrine, a moda passara, mas ela sabia que conseguiria comprá-lo numa
liquidação. E que felicidade a dela de encontrar a peça lá, a última, pela
metade do preço, exatamente o quanto ela havia conseguido economizar!
Decidiu
usá-lo na primeira folga do trabalho, um domingo tão quente de sol, muita gente
na rua, chegou a estranhar o movimento. Queria sim que a olhassem, e até que
alguns homens chegassem a fazer gracejos – o vestidinho caiu perfeitamente no
seu corpinho de 19 anos mal completados, delineando uma cintura de moça em
forma, ombros e pernas morenos à vista. Naquela grande avenida de domingo não ficou
decepcionada com a falta de olhares, e sim confusa com tantos enviesados na sua
direção, homens, mulheres, moços, moças, velhos, velhas. Todos a olhavam
cerrando sobrancelhas, cochichando, apontando.
Foi quando
um grupo avançou sobre ela, logo de cara metendo a mão por trás do vestido. Um
puxão só, rasgou nas mãos de alguém, enquanto outros gritavam coisas que ela
não entendia. O choro convulsivo de susto mal a deixava tentar qualquer defesa,
todos continuavam a gritar contra ela, agora seminua, tapando os seios com os
braços, sozinha, no meio de uma multidão.
Resolveram
ajudar e lhe deram um manto verde e amarelo pra se cobrir. Viraram as costas e
a deixaram como se deixa um cão doente numa esquina qualquer.
Sozinha,
encolhida contra uma parede de uma pequena alameda, o choro cessou, e nem por
isso sentiu-se mais confortada, muito menos com o manto que lhe cobria. Queria apenas de volta seu novo vestidinho
vermelhinho – agora só em trapos sobre o asfalto de um domingo muito quente. E
ela não entendia por que tão quente.
CRiga.
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