segunda-feira, 29 de junho de 2020

"Ninguém é cidadão"


Enquanto a cova não chega comendo
o pátio do Paço ali pertinho,
cegueira reina.
Na sujeira das calçadas tomadas
as torneiras são abertas
pra lavar os bolsos dos fantasmas.

Mataram-se por uma marquise
na esquina,
noutra fumam bebem injetam e revelam
a verdadeira cidade do outdoor.

Suja é pouco
buracos e semáforos apagados também.
Pouco dinheiro pra tudo
pouca vontade também.

Não é Turquia nem Síria,
Etiópia, Somália, Venezuela, Haiti –
o caos do mundo também é aqui
no centro da cidade que já era feia.

Na tentativa de falar sobre o amor,
o pulso amotinou-se –
disfarçar paixões que é fácil,
difícil é conter a vida que grita
que cheira a mijo
no asfalto muito caro.

CRiga.

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