sexta-feira, 24 de maio de 2019

A pele que ferve


Estou louco. Sou. Só agora sei.
Suspeitava.
Suscitam vulcões na pele.
O sangue não é de todo ruim
mas não para de sangrar.

Sintomático. Sinto muito,
automático provoco feridas
em mim e em quem mais amo.

Os pés no chão me esfolam o corpo todo.
Eu desaprendi a voar fugindo da dor.

Um rapaz se matou enforcado
na casa ao lado.
A vida que é muito louca –
a mãe acarinhou seu rosto perguntando-se por que
e o pai quis forrar a garagem
pro morto não sentir o chão gelado.

Na verdade ninguém sabe muito bem
por que a corda nem sempre arrebenta
do lado mais fraco.

Faço um trato –
os domingos não serão mais loucos.
Apenas eu, à beira dos barbitúricos
que um dia mataram Elis.

Eles não vão saber por que –
nem eu sei por que minhas unhas cavocam
sôfregas procurando segredos nus
na pele branca agora em chamas.
E me chamam a atenção.

Eu me chamo louco.
Uma pessoa então comum.

CRiga.

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