terça-feira, 25 de junho de 2024

A egotrip da vingança

 


Vou viver no limite íngreme
Da minha alma que já não é tão pura.

E se você não vier de branco
Feito anjo me salvar do devaneio
Vou ser mármore tão negra.

E se você não sorrir
E se você não me ouvir
E se você não me abraçar
E se você não existir...

E se você não vier?

Se você não vier
Vou renascer das cinzas do que já sou.

Eu sou as cinzas que boiam no teu ar
Que aterrorizam teus olhos sem cor
Numa trágica noite de inverno,
Depois do vento insano sem direção
Invadir a tua casa decorada
Morango de prateleira.

Só que você, metódica
Limpa a tua casa com talento
Lava o rosto petrificado
Com sabonete neutro, água morna
E vai dormir
Como se não existisse o dia
Que você me deu um beijo.

Como se eu não existisse,
Como se eu fosse pedra vulgar
Ou mármore tão negra.

Como se eu fosse ressuscitar
Sem limites
No teu seguro lar tão puro.

Como se eu fosse o retrato velho
Sobre a triste escrivaninha de cedro
Esquecida no sótão escuro.

Como se eu fosse vírus
Esperando tua hemorragia
Me libertar do desespero.

Como se eu fosse o fóssil
Daquele tiranossauro rex
Que um dia quis ser bonzinho.

Como se eu fosse fácil
Como se eu fosse frágil
Como se eu tossisse sangue
Feito poeta do Romantismo.

Vou viver no fútil limite
Desta alma que só queria
Ter você de fato um dia.

E se você vier assistir a meu desespero
Vou sorrir sarcástico
Dar adeus com a cabeça
Virar as costas
E voar sobre o penhasco.

E só sobrará teu eco dissonante
Entre as montanhas seculares
Naquela trágica noite de inverno:

“Eu amo você...cê...cê...”

E ficará esperando resposta
No limite íngreme do penhasco
E ficará esperando eu voltar de branco
Feito anjo
Pra te salvar da tentação
De vir comigo devanear.

E ouvirá só o som da lágrima
Contra a rocha seca
Que não ressoa eco
Nem alivia a dor.

E rezará por mim
E pedirá minha proteção.

E lembrará dos dias em que nunca fui anjo
E quando roubei um beijo teu.

E desejará com a alma
Eu não estar te vigiando
E continuar não sendo anjo
Só pra roubar outro beijo teu.

E você viverá no limite íngreme
Da tua alma então tão negra

Perdida no vale das pedras
Mármores tão puras

Perdida nas noites escuras
Que eu fundei
Enquanto amei você.

CRiga.



 


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