quarta-feira, 5 de junho de 2024

Mal dos séculos

 

Colecionava selos de cartas não respondidas.

Na caixa do correio um ninho,
Alimentava pássaros e ilusões.

Da janela as estrelas cadentes que contava
Eram desejos que não valiam mais a pena.

Na calçada, pra cada sorriso não devolvido,
Mais uma moeda na cartola do artista falido.

Em casa, em qualquer lado, uma parede vazia.
Um Renoir havia dormindo debaixo da cama.

Doíam amores de ficção – o que era verdade
Se tornava apenas invenção.

Viveu se apoiando, as costas no mofo do porão.

Morreu tossindo sangue
Romancista de plantão.

CRiga.




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