Encontrei
de novo às duas da manhã. Depois da boate, das bebidas, dos cigarros. Depois de
você vender seu corpo a quem pagasse bem, loira linda que você é. Não ia pagar.
Não ia querer ter teu corpo por profissão. Apesar de querer muito, como
queria!... Mas pagar seria me trair e matar o seu olhar. O seu olhar brilhante
naquela meia luz de boate. Olhar pra mim, sentado te amando com os olhos, uma
vida inteira. Um sorrisinho meigo de canto. Fugi na noite pra encontrar você.
O
mesmo olhar brilhante agora sobre aquele viaduto, você de cima, no peitoril, o
decote e os seios lindos apoiados no concreto muito velho do Centro da cidade.
Os meus olhos acompanhavam teu corpo, horizontal saindo do peitoril até o par
de pernas, cruzadas à altura da canela, um pezinho de ponta, ao lado do outro,
de apoio. Linda, de blusinha vermelha e saia jeans preta. Sapatinhos pretos
também, tipo bailarina, de pano. E os olhos brilhantes olhando o nada além
daquele viaduto. E mais aquele sorrisinho meigo de canto, na boca batom vermelho.
E
me perguntava se valia a pena ir conversar contigo. Se me daria atenção, apesar
dos olhos brilhantes lá na boate. Pensava: bobagem minha, não vi olhar pra mim.
E me contrariava. Não, eram pra mim, sim! Diferente daquele olhar profissional
caçando homens. Olhou pra mim de forma diferente. Olhou sim!... Olhou?... E o
sorriso, aquele cantinho da boca linda vermelha era meu? Era meu, só podia ser,
só eu vi!... Eu vou lá!
Daí
cheguei.
Boa
noite.
Oi.
Distante?...
É...
Cansada?
Não...
Esperando
algo?
Já
encontrei!...
Beijos.
Mais beijos, fundos, profundos, ardentes. O batom vermelho borrava minha boca,
minha mão já passeando por baixo da tua saia, a tua mão por baixo da minha
calça. Linda, loira!... Duas da manhã, ninguém passava, você agora sentada no
peitoril, eu no meio de teu lindo par de pernas, e a noite que era quente
demais!... Quente. Explosão. Morno. Suor. Sorrisos. Olhar brilhante.
Profissional...
Aqui
é um pouco mais caro, amor. Um pouquinho só...
Um
olhar profissional. O meu, de brilhante a fosco. Cor da noite quente vermelho
Vênus ferido sangrando por cima da minha cabeça quente zoeira olhar
profissional se apagando um empurrão um grito uma noite um olhar distante um
olhar mais distante um barulho seco no asfalto quente lá embaixo. Um olhar
profissionalmente morto no asfalto quente vivo.
O
meu olhar era de verdade. E não mentiu nem na hora que o desapontamento
vermelho apagou seu brilho. Fui embora, ninguém viu nada. Voltei pra boate.
Paguei no caixa. Me deixei esquecer. Sirenes ecoavam. Eu bebia uma cerveja.
CRiga.
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