Corri
atrás do teu perfume na alameda mais longa. Atrasei, você estava morta
enterrada com direito a fotinho oval desbotada na lápide de mármore de quinta
categoria. Nós somos assim, ricos só de espírito, mas eles aqui não gargalham
nem bebem cerveja. O silêncio da perda é o comum.
Há
ratos em volta. As pétalas escureceram, apodreceram. Você não vai voltar, então
eu vou embora, me desculpe. Não vou morrer contigo. A chuva já castiga, aquela
chuvinha tonta de filme de romance europeu, o cara com os pingos caindo pelo
sobretudo preto, encharcado, o rosto parecendo derreter. Aqui, verão, eu de
bermuda e havaiana, uma camiseta regata que às vezes uso pra dormir.
Lembra?
A gente dormia junto, e você tirava sarro dela. Tinha Nossa Senhora, minha tia
me deu depois de voltar de Aparecida. “Ai, Santa!”, você gargalhava, embriagada
na nossa cama. Depois, nem santa nem roupa alguma – o diabo nos corpos!
Há
ratos em volta de nossa casa, como numa música do Clube da Esquina que você
ligava na vitrola. Não quero voltar pra lá. É só um barraco, velho, lá ainda
tão todas as tuas coisas. Eu me atrasei... nunca houve mesa pronta, mas
esperava te encontrar. A gente se esquece das coisas.
Eu
vou embora da tua nova casa, meu bem, ela é fria demais demais, apesar de não
ter (e querer) onde voltar. Antes, vou quebrar a garrafa pros cacos decorarem
tua nova casa. Assim parece mais ainda com a gente. E os ratos: gente boa! Esse
cheiro de mijo, você não deu bola pra mendigo, né? Tudo bem, em casa ninguém
limpava nada... Mas tudo incrivelmente brilhava. Até esta mesma foto desbotada.
E,
por favor, esqueça de apagar a luz – não é agora que você vai se lembrar.
Afinal, meu bem, você está morta e enterrada. Só eu que ainda não saquei...
Nenhum comentário:
Postar um comentário