– Quer
namorar, Fabi?
– Não, eu
gosto do Agostinho.
– É...
Agostinho, é?...
– Agostinho,
eu gosto é dele. Não gosto de você.
– Não acho
que seja uma boa escolha...
– O quê?
– O
Agostinho.
– Como assim?
Até parece que isso vai mudar alguma coisa.
– Então tá,
Agostinho, Agostinho... Boa sorte.
– Obrigada,
aproveita e se manca.
– Agostinho
não é bom partido. Agostinho não...
– Larga mão!
Para de ser invejoso!
– A palavra
certa é ciumento.
– É inveja
mesmo, dele. Se é ciúme, você tá perdido, não tenho nada a ver. Se manca!
– Olha, eu
não vou insistir, mas Agostinho não serve.
– O quê?
– Não serve.
Gosta de outra.
– Gosta de
outra? O que você tá falando? Larga a mão de ser assim!
– Tá avisada.
Agostinho não vai nunca querer namorar você.
– Ah...
– Ele gosta
da Lídia.
– Que Lídia?
– A Lídia, lá
do fundo. A Lídia, que se veste de preto.
– Magina,
Lídia nada! Para de querer botar defeito!
– Defeito,
eu? Lídia é bonitona, estilosa. Você...
– Eu o quê,
fala!
– Você não é
assim, é meio...
– Meio o quê,
fala se tem coragem!
– ...sem
graça, sabe. Não tem approach...
– Apoquê?
– Não tem
approach. Agostinho gosta de garotas de approach.
– Garotas de
approach...
– Ele também
tem.
– Tem o quê?
– Approach.
Mais que eu, inclusive.
– Onde
compra?
– O quê?
– Approach...
– Ah, isso
não se compra. Nem se consegue de uma hora pra outra.
– Então é só
eu me vestir de preto também?
– Não
funciona. É mais que roupa.
– Cor de
cabelo?
– Mais.
– Jeito de
andar? De falar?
– Mais,
mais...
– Que droga,
preciso de approach! Me ajuda?
– Em casa dá
pra conseguir.
– Na sua
casa?
– É. Lá tem
approach. É chegar e ter.
– Vamos lá,
vamos lá!
– Sairá de lá
com muito approach.
– Vamos,
vamos!
– Vamos...
é.. sei não...
– Sei não o
quê?
– Acho que
vou chamar Lídia.
– Quê?
– Lídia, lá
do fundo da sala.
– Mas ela não
gosta do Agostinho?
– Quem gosta
dele é você. Ela gosta de mim.
– De você?
– De mim.
Acho que é o meu approach.
¬– Mas e
você, não gosta de mim?
– Gosto mais
dela. Ela tem approach.
– Ah, me
deixa!
***
– Quer
namorar, Lídia?
– Eu não
gosto de você.
– Gosta de
quem então?
– Não
interessa. E você nunca adivinharia.
– E
Agostinho?
– Que tem?
– Ele gosta
de você.
– Coitado...
Acho que não...
– Na verdade
eu gosto da Fabi. Ela tem mais approach.
– Então por
que me pediu em namoro, ô boboca?
– Pra fazer
ciúme pra Fabi. Ela diz que você também tem um certo approach.
–
Approach?...
– Approach.
– Ela disse
isso?
– Disse sim…
– Disse isso
de mim?
– Sim…
– Então eu
topo.
– O quê?
– Namorar
você.
– Mas você
não gosta de mim.
– Não, eu
gosto dela. Me ensina a ter approach?
– Dela, da
Fabi?
– Da Fabi, da
Fabi!...
– Mas Fabi
gosta de Agostinho.
– E Agostinho
gosta de você.
– Agostinho,
como assim?
–
A-gos-ti-nho. Gosta de você.
– Eu, como
assim, Agostinho, como assim?
– É o seu
approach. Você tem, me ensina!
– Eu? Eu não,
não tenho não...
– Ah,
váááá!...
– Eu não
gosto de Agostinho.
– De Fabi é que
não é...
***
– Quer
namorar, Agostinho?
– Quem?
– Escolhe.
Quem tem mais approach...
CRiga.
* 4º lugar no Prêmio Barueri de Literatura
2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário