terça-feira, 1 de outubro de 2019

Approach


– Quer namorar, Fabi?
– Não, eu gosto do Agostinho.
– É... Agostinho, é?...
– Agostinho, eu gosto é dele. Não gosto de você.
– Não acho que seja uma boa escolha...
– O quê?
– O Agostinho.
– Como assim? Até parece que isso vai mudar alguma coisa.
– Então tá, Agostinho, Agostinho... Boa sorte.
– Obrigada, aproveita e se manca.
– Agostinho não é bom partido. Agostinho não...
– Larga mão! Para de ser invejoso!
– A palavra certa é ciumento.
– É inveja mesmo, dele. Se é ciúme, você tá perdido, não tenho nada a ver. Se manca!
– Olha, eu não vou insistir, mas Agostinho não serve.
– O quê?
– Não serve. Gosta de outra.
– Gosta de outra? O que você tá falando? Larga a mão de ser assim!
– Tá avisada. Agostinho não vai nunca querer namorar você.
– Ah...
– Ele gosta da Lídia.
– Que Lídia?
– A Lídia, lá do fundo. A Lídia, que se veste de preto.
– Magina, Lídia nada! Para de querer botar defeito!
– Defeito, eu? Lídia é bonitona, estilosa. Você...
– Eu o quê, fala!
– Você não é assim, é meio...
– Meio o quê, fala se tem coragem!
– ...sem graça, sabe. Não tem approach...
– Apoquê?
– Não tem approach. Agostinho gosta de garotas de approach.
– Garotas de approach...
– Ele também tem.
– Tem o quê?
– Approach. Mais que eu, inclusive.
– Onde compra?
– O quê?
– Approach...
– Ah, isso não se compra. Nem se consegue de uma hora pra outra.
– Então é só eu me vestir de preto também?
– Não funciona. É mais que roupa.
– Cor de cabelo?
– Mais.
– Jeito de andar? De falar?
– Mais, mais...
– Que droga, preciso de approach! Me ajuda?
– Em casa dá pra conseguir.
– Na sua casa?
– É. Lá tem approach. É chegar e ter.
– Vamos lá, vamos lá!
– Sairá de lá com muito approach.
– Vamos, vamos!
– Vamos... é.. sei não...
– Sei não o quê?
– Acho que vou chamar Lídia.
– Quê?
– Lídia, lá do fundo da sala.
– Mas ela não gosta do Agostinho?
– Quem gosta dele é você. Ela gosta de mim.
– De você?
– De mim. Acho que é o meu approach.
¬– Mas e você, não gosta de mim?
– Gosto mais dela. Ela tem approach.
– Ah, me deixa!

***

– Quer namorar, Lídia?
– Eu não gosto de você.
– Gosta de quem então?
– Não interessa. E você nunca adivinharia.
– E Agostinho?
– Que tem?
– Ele gosta de você.
– Coitado... Acho que não...
– Na verdade eu gosto da Fabi. Ela tem mais approach.
– Então por que me pediu em namoro, ô boboca?
– Pra fazer ciúme pra Fabi. Ela diz que você também tem um certo approach.
– Approach?...
– Approach.
– Ela disse isso?
– Disse sim…
– Disse isso de mim?
– Sim…
– Então eu topo.
– O quê?
– Namorar você.
– Mas você não gosta de mim.
– Não, eu gosto dela. Me ensina a ter approach?
– Dela, da Fabi?
– Da Fabi, da Fabi!...
– Mas Fabi gosta de Agostinho.
– E Agostinho gosta de você.
– Agostinho, como assim?
– A-gos-ti-nho. Gosta de você.
– Eu, como assim, Agostinho, como assim?
– É o seu approach. Você tem, me ensina!
– Eu? Eu não, não tenho não...
– Ah, váááá!...
– Eu não gosto de Agostinho.
– De Fabi é que não é...

***

– Quer namorar, Agostinho?
– Quem?
– Escolhe. Quem tem mais approach...

CRiga.

* 4º lugar no Prêmio Barueri de Literatura 2019


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