Eu hoje sonhei que barbeava meu filho. O rostinho era o mesmo, de criança, suave, bonito, pérola de infância aos 12 anos. Apenas alguma “barba” havia, lisinha, e eu era só o medo de lhe cortar. No final deu tudo bem: barba feita, sem machucar. Seus olhinhos azuis me encaravam sérios, sua meninice que sempre me comove me deu força. Afinal, sonhos são assim, estranhos, mas que te pegam de alguma forma.
Acordei,
e eu era agora uma triste sensação, o dia em que não mais terei aquele rostinho
de criança para olhar, beijar, acariciar. O dia em que seus olhinhos azuis
poderão ser apenas os olhos perdidos de um rapaz procurando identidade ou
minhas lâminas de barbear. O rosto do cara desviando do meu na festa que não
será mais minha, à procura do que será seu. Será o momento em que caída toda a
areia do tempo, a ampulheta revelará depois do vendaval da idade: tens pouco o
que lhe interessa.
Corri
ao seu quarto, cama vazia, ele este ano começou a estudar de manhã. Acorda mais
cedo que eu e a mãe, arruma suas coisas, um copo de leite com chocolate, pega a
blusa em nosso quarto e corre pra pegar a van que ele reclama nem conseguir
fechar a porta, observado pelos adolescentes com olhares sonolentos de
irrelevância. E me veio de novo a brisa fria de uma futura solidão: a saudade
do tempo em que eu poderia dizer bom dia, boa aula, eu te amo. Depois será boa
tarde, onde vai, fica em casa conversar, eu tenho um conselho, deixa eu te
falar...
Tomei
café, fui trabalhar. Ritmo forte, correria, muita ideia pra ter e executar, o
dia a dia que te toma os sonhos e a essência. Mas no meio da tarde, um estalo,
me veio a imagem de meu filho e seu rostinho de criança. Parei tudo, parei
aqui: será que um dia precisarei ensiná-lo a se barbear? Será que um dia vou me
perdoar pelo tempo que insisto em perder?
Mas
o engraçado mesmo é sentir saudades do que ainda não foi. Meu filho hoje vai
dormir mais cedo, e eu preciso lhe encontrar. Amanhã eu preciso acordar mais
cedo, e que bom: ele ainda não precisa se barbear!
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