sábado, 28 de setembro de 2019

A boca


Quando cala, instaura a dúvida.
Se fala, é preciso cuidado –
inclusive para ouvir.

Pode declamar poemas
ou xingar o motorista.
Dizer que ama,
que tome cuidado na estrada.

Quando beija
no rosto é carinho.
Nela é paixão!
Às vezes só selinho
de carinho com paixão.

Engole sapos e outras bocas,
mamilos e mangas da estação.

Faz biquinho na selfie
e não sabe se portar
sozinha no metrô.

Quando se abre gargalhando é piada boa,
ou, no desenho animado, é o vilão –
hoje criança tem medo da bruxa má?

Quando sorri é tanta coisa...
Gentileza.
Leveza.
Amor.
Sedução.
Felicidade.
Lembrança boa.
Um “olá”.
Um “tchau”.
Mal difícil ser.
Geralmente é muito bom.

É maldita, é da noite.
Cochicha preces na igreja.
Grita um nome ao portão.
Serve pra ir a Roma
ou pra puta que pariu.

Sozinha sente a lágrima correr salgada
e engole o choro disfarçando a dor.

Às vezes nunca falou
e as mãos fazem a vez
e a voz.

Às vezes fala demais
inclusive com as mãos –
que digam nossos italianos!

Bate com ela é baixaria.
Dela pra fora pode até não ser sério,
mas às vezes magoa.

Pode dizer sobre tanta coisa boa...
por que então maldizer,
querer estragar os dias?

Dos buracos da cabeça
é o único sem par.
Mas quando pareia
incendeia!

Numa ceia dizem que traiu.
Em outros tempos tristes
entregou inimigos à fogueira.
Hoje engana fiéis
com fome de Verdade.

E canta!
Inclusive, paquera...
Morde e assopra.

Dilacera
por ódio
e por amor.

CRiga.

Nenhum comentário:

Postar um comentário