terça-feira, 10 de setembro de 2019

O gatilho


Ainda a fórmula drástica: os perdões perdoam até a memória eletrificar os neurônios e desejarem apenas que a tua morte seja digna. Comparecerão ao teu enterro e até chorarão uma lágrima sincera, mas os cochichos dirão que porque morreu não se tornara santo. Nem tenho esta pretensão.

O perdão é uma coisa muito foda de cada um – na verdade, ele não existe. Pior é não conseguir se perdoar. Preciso extrair disto um bom epitáfio – quem nunca não perdoou que puxe o gatilho da mágoa e aponte o dedo diminuindo o diminuto eleito culpado. Faz bem não perdoar. Bem pra quem, não se sabe bem.

Mas concordo com o meu imperdoável, sou dele a alma que não descola do corpo putrefato. Por isso sigo amável. Um eterno olhar de bezerro doente. E uma fúria de tirar o fôlego até a alma sufocada entulhada no canto da casa lembrar-se que viver assim é estar sempre só e tudo bem. Deixe-me chorar os bons passados que sei que também não me perdoarão. Eu não tenho mesmo saída.

Nem gatilhos tenho direito de puxar. Eu aprendi comigo a perdoar de tudo. Menos a mim mesmo.

CRiga.


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