(foto de Antonio Lacerda)
As mazelas
esperneiam
e o esperma
corre as pernas.
É quando o
triste fecundador
desiste do
mundo mundano –
um bebê
morre anjo
feliz
angelical.
As janelas
estão fechadas
e os
beirais têm rosas secas.
A cidade
está de olhos cerrados,
fingindo um
sono, talvez embriaguez,
para
aliviar a dor.
A luz da
tevê ilumina um barraco,
e o cheiro
do jantar se mistura
ao pó da
casa fechada
em pleno
verão.
Os gritos
daquelas crianças
estilhaçando
as alegrias de infância,
hoje fazem
parte da canção de ontem
no vinil
velho comido pelo tempo.
O batom que
era da camisa de seda
virou
sangue de execução na mesma esquina,
onde
cantava a boemia
uma vida
mais bonita.
Aquela
seresta virou faroeste,
e o oeste
virou medo no pôr-do-sol –
é quando
morre na esquina
mais um
inocente trabalhador.
Não há
caminho de volta ao lar –
há via
crucis no chão de terra batida
onde Cristo
podia bem ter caminhado,
não fosse a
cruz virar arma branca
pra dar na
cabeça de bandido
e de
penhora à polícia.
Não há
caminho aos novos fecundadores –
o
espermatozóide tem medo da missão
e canta
assoviando uma musiquinha
sucesso de
antigamente,
pra
disfarçar sua tristeza
de ter que
dizer não.
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