sábado, 29 de junho de 2024


 

Samba ilustrado

 


O barulho daquele samba novo no rádio muito alto era como marretadas em seu espírito cansado, enquanto bundas pagodeavam no chão de cimento batido feito ritual prenunciando sua morte. Bebia sua cachaça no balcão do boteco de esquina da favela, sozinho, enquanto pensava se teria feito o correto ao cimentar a amante morta debaixo do tanque. Dariam falta dela, e uma certa neurose o avisava que iriam procurá-lo. Ele via, ou pensava ver, vários olhos o vigiando na vizinhança enquanto entrava na casa daquela negra linda que escolhera o par errado.

Conheceram-se no ponto de ônibus, de manhã. Conversavam muito no caminho ao trabalho – ele, pedreiro, branco de olhos azuis; ela, linda negra, recepcionista de um consultório de dentista. Um dia, um convite, “passa em casa na volta”. Como resistir à negra mais linda e gostosa do morro? Assim começou.

O caso é que um dia, meses depois, a nega enlouquecera. Queria que queria aqueles olhos azuis só pra ela, aquela pele polaca agarrada à dela, aquela pele de veludo quente e branca diferente dos negrinhos do morro. A nega queria que ele largasse a esposa, filhos e tudo mais, e assumisse logo aquele romance louco, ardente. E apesar da paixão vermelha, queria filhos também. Aquilo não era mais como no começo, apenas um caso, sexo, saídas, segredo – agora, depois de seis meses, tudo ficara sério demais pra ela.

E apesar de adúltero, ele era trabalhador honesto, não deixava faltar nada em casa e amava sua mulher mesmo na cama fria em que fizera algumas daquelas seis bocas a mais que comiam no barraco. Ele sabia que o chefão do tráfico no morro era o pai de pelo menos três de seus rebentos, e perdoou, o que fazer? Adotou as crianças como suas. Sua mulher um dia adúltera ganhou e ganhou presentes enquanto era aquela morena gostosa sem o corpo castigado de seis filhos. Mas o traficante cansou um dia, deu uma grana e tudo certo. O barraco tinha Cartoon pra criançada, tevê de plasma e computador de internet banda larga.

Um problema: a negra linda, a amante, era nada mais nada menos que propriedade justamente daquele mesmo traficante. Ou seja, ele estava condenado à morte por todos os lados, como escapar? Cedo ou tarde, polícia ou bandidagem descobriria a história daquele fim de tarde no barraco: ela exigindo ele só pra si, mais uma faca na mão ameaçando matá-lo e matar-se em seguida, quando ele preferiu abreviar as coisas: tomou a faca da mão no vacilo da nega, cortou o pescoço macio dela feito faca quente na manteiga, e cimentou o corpo na cozinha, embaixo do tanque adaptado do barraco. Um problema a menos pra se preocupar.

Depois, saiu vagando feito zumbi, cabeça pesada. Entrou no terreiro do samba agudo, o diabo gargalhava no canto do balcão. Bebia sua cachaça, mas não alcançava o arrependimento. Havia um certo medo, mais a preocupação de ser levado preso – ou ser morto, muito melhor. O receio maior era apenas de deixar a família sem sustento num mundo de incertezas e diabos gargalhando dos filhos e da mulher a cada esquina da favela. Pagou a conta, trombou com as bundas pagodeando no meio do boteco, e decidiu encarar o pesadelo.

Pelos becos rumo à sua casa, entregava ao acaso espremido entre barracos no meio caminho aquela sua vida mais ou menos, agora marcada por sangue e maldição. Já sem qualquer perspectiva de vida antes, agora a morte era apenas uma questão de tempo. Um cheiro de enxofre o seguia.

Foi quando viu a espera cair no beco mais sujo da favela: o chefão do tráfico e sua gangue vinham sentido contrário, apressados, de encontro, nervosos, anjos do apocalipse. Ele passou a desejar apenas uma morte sem os sofrimentos que os traficantes sujeitavam alguns inimigos, por vingança. O medo subiu pelas costas, o diabo voltou a gargalhar feroz, agora correndo em suas veias até sua cabeça panela de pressão. Mas ele não reagiu, apenas encarou o demônio. E aceitou.

O chefão meteu a mão no peito dele, com uma arma na outra mão:

– Tava na tua captura, alemão. Ouve bem...

A história foi a seguinte: o chefão estava fugindo do morro porque a polícia tinha recebido informação anônima, e ele desconfiava justamente da nega. Um dia antes ela queria se separar do traficante, confessando que tinha um amante e queria ficar com seu amor. Mas como ela sabia demais dos esquemas de crime no morro, o chefão não deu chance: foi lá, na surdina, e incendiou o barraco dela.

– Matei a nega, tava dormindo com certeza – confessou o traficante.

Meteu a mão no bolso e tirou um bolo de notas graúdas.

– Toma, isso é pra você. Se correr, tem mais lá no meu barraco, é tudo teu.

O traficante sabia que ele aceitara criar filhos que não eram seus, frutos de adultério. Dali desceu pra fora do morro, em fuga.

Dia seguinte o jornal daria a morte do principal traficante do Rio de Janeiro.

Fim de uma história. Recomeço de uma outra.

***

Numa manhã ainda madrugada, naquele bairro sem favelas, ele fazia a barba pra ir à labuta diária numa obra no centro do Rio. A esposa entrou, olhou pelo espelho ainda embaçado pelo vapor do banho. Os olhares se encontraram, as bocas sorriram uma cumplicidade etérea.

Na cozinha um café preto quentinho, pães e aquela margarina do comercial. O rádio baixinho tocava um sambinha antigo – “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima...” – dando um ar de redenção junto à tinta branca ainda cheirando fresca. Dançaram agarrados, lentos, silenciosos. O sol nascia. Os filhos dando risadinha da sala, enquanto trocavam de roupa pra ir à escola. O sambinha cessou, veio o locutor dando bom dia.

Ele beijou a esposa, e beijou cada um dos seis filhos. Arrumou a marmita na mochila, abriu a porta, o sol invadiu a mesa junto do cantar de um pássaro qualquer. Atravessou o quintal de flores, abriu o portão de madeira que rangia uma vidinha tão bonita. Deus sorria na caixa de correios. Saiu pra trabalhar.

CRiga.



 


quarta-feira, 26 de junho de 2024


 

Render-se

 


Um velho perde o filho.
Um filho perde a namorada.
Uma namorada perde o encanto.
Um encanto perde a pureza.
Uma pureza perde a esperança.
A esperança fica velha
E um velho morre junto ao filho.

CRiga.

 



terça-feira, 25 de junho de 2024


 

A egotrip da vingança

 


Vou viver no limite íngreme
Da minha alma que já não é tão pura.

E se você não vier de branco
Feito anjo me salvar do devaneio
Vou ser mármore tão negra.

E se você não sorrir
E se você não me ouvir
E se você não me abraçar
E se você não existir...

E se você não vier?

Se você não vier
Vou renascer das cinzas do que já sou.

Eu sou as cinzas que boiam no teu ar
Que aterrorizam teus olhos sem cor
Numa trágica noite de inverno,
Depois do vento insano sem direção
Invadir a tua casa decorada
Morango de prateleira.

Só que você, metódica
Limpa a tua casa com talento
Lava o rosto petrificado
Com sabonete neutro, água morna
E vai dormir
Como se não existisse o dia
Que você me deu um beijo.

Como se eu não existisse,
Como se eu fosse pedra vulgar
Ou mármore tão negra.

Como se eu fosse ressuscitar
Sem limites
No teu seguro lar tão puro.

Como se eu fosse o retrato velho
Sobre a triste escrivaninha de cedro
Esquecida no sótão escuro.

Como se eu fosse vírus
Esperando tua hemorragia
Me libertar do desespero.

Como se eu fosse o fóssil
Daquele tiranossauro rex
Que um dia quis ser bonzinho.

Como se eu fosse fácil
Como se eu fosse frágil
Como se eu tossisse sangue
Feito poeta do Romantismo.

Vou viver no fútil limite
Desta alma que só queria
Ter você de fato um dia.

E se você vier assistir a meu desespero
Vou sorrir sarcástico
Dar adeus com a cabeça
Virar as costas
E voar sobre o penhasco.

E só sobrará teu eco dissonante
Entre as montanhas seculares
Naquela trágica noite de inverno:

“Eu amo você...cê...cê...”

E ficará esperando resposta
No limite íngreme do penhasco
E ficará esperando eu voltar de branco
Feito anjo
Pra te salvar da tentação
De vir comigo devanear.

E ouvirá só o som da lágrima
Contra a rocha seca
Que não ressoa eco
Nem alivia a dor.

E rezará por mim
E pedirá minha proteção.

E lembrará dos dias em que nunca fui anjo
E quando roubei um beijo teu.

E desejará com a alma
Eu não estar te vigiando
E continuar não sendo anjo
Só pra roubar outro beijo teu.

E você viverá no limite íngreme
Da tua alma então tão negra

Perdida no vale das pedras
Mármores tão puras

Perdida nas noites escuras
Que eu fundei
Enquanto amei você.

CRiga.



 


segunda-feira, 24 de junho de 2024


 

Procissão de São João

 


Destrua os olhos roxos
Querendo esconder pecado.
O mais pecado dos pecados –
Ousar não ter pecado.

O suor do santinho a caminho
Daquela fontezinha artificial
Não purifica o asfalto caro
Amanhã forrado de santinhos
De campanha eleitoral.

Os fogos do céu são bonitos
Tão bonitos quanto o fogo
Debaixo das saias das meninas.

Não creio em fonte, creio no fogo
Que não mente nos olhos roxos
Que não sente por pecar
E que vive santo, sem machucar.

O pecado mora aqui mesmo
Não precisa procurar ao lado.

CRiga.




sexta-feira, 21 de junho de 2024


 

Corda bamba

 


Às vezes a vida é dura, pendura uma peça.
Quem tem pressa também tem preço.

O cigarro aceso, o arco teso
Esperando a fácil presa.

A farsa e o farsante
O sangue
O corante.

Às vezes a gente corre
Morre dormindo
Sonhando com vida melhor.

Quem tem preço tem pressa
Porque a farsa cessa, o sangue cora
O farsante chora.

Às vezes a vida corre fácil feito correnteza.
Leva a certeza no curso de que escura só a noite
Que inspira e vence o medo.

Quem tem pressa também tem medo
Porque a farsa cessa.
No final quem tem preço é quem tem mais medo
De não conseguir chegar.

É a farsa feita verdade universal
Caída morta estirada
Num medíocre ponto final.

CRiga.




quarta-feira, 19 de junho de 2024


 

Documentário

 


O que é lixo pra tua lente
É leão que mato na tua frente
Em apenas mais um dia
Dos meus apenas dias.

Só que eu mato um leão, mermão,
Mas não mato a fome não...
Remexo lixo, machuco a fome,
Olha os home!

Corre logo ou vai preso,
Come logo ou vai morrer mais cedo
Mais esperto, muito perto
Daquela lente da premiada indiferença
E do leite a salvo feito sentença
Em frente à porta sempre fechada.

Captou a melhor imagem?
Que bom, posso seguir sossegado
Roubando o tíquete premiado
Pra estreia da tua movimentada sessão.

Daí não chora não, mermão –
Tudo será só leite derramado,
Sucesso no luxo das salas
Bem longe do lixo daqui.

CRiga.



 


segunda-feira, 17 de junho de 2024

Alquimia

 


Eu vou criar o vento do rodamoinho.
O dinossauro do petróleo.

O cateter do caráter.
Turbinar o sistema com um novo binário.

Vou inventar o homem
Do pobre e do bilionário.

Vou engarrafar o ar da pura inspiração.
Resgatar a paz do coração da fera.

A nova era já era
E o novo erro é o mero acerto.

Não há caminho certo, nem perto.
Aperte o cerco
Do esterco nasce a rima.

Acerte o ponteiro
Porque o poeta é certeiro
E sem direção.

CRiga.



 


sábado, 15 de junho de 2024


 

A festa

 


Dali em diante, fêmea decidida,
Tomaria todas as bebidas da festa.
Amazona bruxa louca varrida
Varrendo homens de sua vida.

Glicose na veia nunca faria efeito.
O coma na cama nunca levaria
Esta espécime rara da natureza.

Nada a deteria, nem os olhos azuis
Nem novo romance de guardanapo.
O vestido curto vermelho já incomodava,
Queria mesmo era o moletom de domingo.

Pra puta que os pariu os caralhos!
Pra que lágrima se o corpo não dói?

Rodou o gelo no copo de whisky
E uma pontada gelada no peito
Acordou o bicho mais sangrento:

Solidão rangendo
Mordendo dentro
Comendo um salgadinho frio
E um coração partido.

CRiga.




(Pablo Neruda)

 


Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda
(Adaptação do poema "Peço Silêncio")

 


sexta-feira, 14 de junho de 2024


 

Dó, Si

 


Eu não tive o brinquedo que pedi.
Mas vi meu Noel sem jeito
Quando contava migalhas do seu bolso.
Ele era muito bravo,
Um adulto de dar dó.

Eu comi o x-salada que queria,
Ela sacou da condução a ficha no caixa.
No balcão da lanchonete a coca veio quente
Pela metade, oferecida
Por um adulto amigo talvez com dó.

Eu vi meu vô pelado na sala.
Ele assoviava, nu com sua dor.
Criança, eu não sabia
O que era sentir dó nem sentir dor.

Eu com dó de mim, matreiro trapaceiro,
Minha vó prometeu me defender:
Bola de meia em cheio, vidraça quebrada!
Mas quando mamãe chegasse cansada
Não brigaria comigo não.

Dó, ré, mi.
Faz um favor pra mim?
Canta um sol melódico
Lá naquele meu futuro melancólico?

Pode ser a partir de si.
Seja lá o que for
Sem assim tanto dó de mim.

CRiga.




quinta-feira, 13 de junho de 2024


 

Sedução

 


Não subestime seu tempo baseado no tempo de outrem.

Vire o chinelo.
Esqueça a roupa na máquina de lavar.
Coma a mistura da geladeira
E também a sobremesa.
Bota o cobertor de solteiro na cama de casal.

E espere com os olhos fechados fingindo sono
Pedindo um copo d’água na quase madrugada.

Não é caso de açúcar nem de afeto.
Apenas um certo ar de dona das tempestades
Das cidades todas e de suas noites.

No fim o fogo é o mesmo
Seja no inferno da espera
Seja no céu do reencontro.

CRiga.


 


quarta-feira, 12 de junho de 2024

12 de junho

 


Nunca será o nosso dia.
Nunca uma foto feliz na rede social.

Nunca uma flor bonita
Uma champanhe que fosse pra nós.

Tudo bem, nosso dia já passou
Sempre passa.

Bandeide
Mertiolate
Vara de marmelo.

Tudo muito sério
Meu sangue
Em vez do vinho tinto.

CRiga.





 

Encruzilhada

 


Quando eu partir
Quero um suave blues chorando
Decorando a poeira dos meus passos.

CRiga.



 

Corvo

 


Quando eu finalmente encontrar aquela paz
Haverá um palavrão roto, raso, engasgado.

Já terei engolido, mas não aprendido.
Os sapos viram príncipes no intestino?

Paz também é relativa.
É lápide novinha que se desgasta
Na chuva ácida do abandono.

Aquela fotinha oval de terninho e gravata
Desbotada ao lado de uma flor de plástico.  

Ninguém mais sai do conforto da novela
Pra limpar os restos da vela fedida
Disfarçar um choro contido
Ressentir uma dor imemorial.

Quando eu alcançar aquela paz
Será tarde demais.

Eu já serei poeira polida todo dia
Empoeirando
Machucando
Despertando naquela hora esquecida
Agendada no teu novo celular.

CRiga.  



segunda-feira, 10 de junho de 2024


 

A fábula de um amor de um verão qualquer

 


Mariposazinha dentro fazendo rock,
É tudo pose.

O sapo lá do lado de fora tava nem aí,
Amor eterno é essa vida toda efêmera,
Embaixo da sua jaqueta de couro verde.

Mas Mariposa se apaixonou terrivelmente
Na lente da porta de vidro
Entre ela e o impossível.

Quis destruir em cacos feito as cinzas
Das asas cansadas de procurar.
Mary pousa triste. E amanhece deitada
Quase pó no canto da cozinha.

Amor é avesso.
Bate cabeça em vidro que não quebra,
Berra engolindo um seco desencontro
Uma vida inteira apenas por um dia.

CRiga.





 

Data de vencimento

 


Quanto tempo ainda nos resta
Quando o até a morte nos separe
É um rótulo vencido de prateleira?

CRiga.


sábado, 8 de junho de 2024


 

Vila Leopoldina

 


Ele não sabia que, entre as suas pernas enquanto sentado no corrimão do cursinho, ela sorria pedindo sua atenção. Ele não sabia que o coração era tão traiçoeiro quanto o tempo, que não curava feridas porra nenhuma. Ela cantava aquela canção do Robert Plant, dizendo que se lembrava dele na hora em que loirão gritava “I burn in love ”*... Ele sabia inglês, mas não quis saber o que significava.

Anos depois, visitou-a sem culpas de entender. Na verdade sem mais nada – naquele coração cego e surdo por sensatez jazia o vazio de uma tristeza incomunicável, um tempo cinza chuvoso de setembro e um vagar pela cidade e parar na sua casa para um oi.

Almoçou com ela e com a mãe, o almoço do pai falecido. Ela tinha novos discos, e conseguira achar aquele do Terence Trent D’arby, com “Seven More Days”, de um velho comercial de jeans em que o cara ficava um tempão esperando a namorada se vestir, ele num carro conversível, fez sol, fez chuva, e ela sai vestida no jeans perguntando: “demorei?”, e ele responde: “não, acabei de chegar”.

Eu demorei... um namorado viria vê-la amanhã, ele gostava de Beto Guedes e Belchior. Eu não conhecia, mas sabia do “não dá mais” brusco do seu olhar. Ele a conhecia. E ela o conhecia, e sabia que saindo dali ele compraria discos do Beto Guedes e do Belchior. E comprou mesmo.

Ele foi embora não arrependido de ter ido, nem arrependido de ter se feito cego anos antes, nos corredores e corrimãos do cursinho, ou à caminho do ponto de ônibus depois das aulas encerradas tarde da noite. Foi embora arrependido de nunca ter convencido ela que sabia dos olhares pedintes, das traduções, dos códigos tão jovens. Arrependido da insistência em dizer amiga, amiga... Amiga, palavra triste quando se perde um grande amor...

CRiga.



 


sexta-feira, 7 de junho de 2024

A Academia da Revolução

 


Cometa o ato lúdico neste pouco tempo
Antes de a realidade te assentar tijolo
Na construção da cidade cega e insana.

Uma poesia.
Resistência dos sonhadores.
Arma dos amores.
Sabores de conhaque perfilando sílabas
Na noite estrelada de um outono que (fatalmente)
Vamos esquecer.

Por isso resista.
Insista ser aos poucos
Manso
Denso
Franco
Santo.

Tudo é permitido.
Tome de assalto a marreta do velho Tempo
E liberte do escuro, do muro,
Corações inquietos
Verbos indiretos
Vias sacras de uma língua perdida
Achada
Molhada num beijo no final da noite.   

CRiga.




Primeira pessoa

 


Eu, quando quero,
Não quero ser eu.

Eu, quando preciso falar de mim,
Prefiro a lucidez incomunicável.

Eu, quando existo no cotidiano,
Sou o perdido pedido de atenção.

Eu, eu, eu.

Eu, quando eu morrer,
Serei comido pela terra
Pela tua fera, tua era
Teu verbo.

Éramos e sempre fomos
Apenas um pronome.

CRiga.  



Razão de ser

 


Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

35 anos sem 𝐏𝐚𝐮𝐥𝐨 𝐋𝐞𝐦𝐢𝐬𝐧𝐤𝐢