terça-feira, 2 de maio de 2017

O que os aros pretos não escondem


Saudade é coisa que pega a gente, e a gente parece que não quer desapegar. Uma sensação de dor gostosa, a saudade que não dói. Sabe cutucar o canto do dedo, bicho de pé, café meio amargo, aquela cachaça mineira que desce rasgando? Saudade de alguém é assim, te tira um pouco do ar, você fica meio catatônico, mas gosta da cara de bobo quando vê a fotografia daquele ser que você quase esqueceu que ama. E percebe que nem o tempão que passou fez você sarar! É coisa que remexe a gente lá dentro, parece sangue gelado cortando o coração de compasso letárgico. É sentir frio no verão do Rio. É mentir que tá tudo bem, que amanhã a gente vem pra festa, mentir com o que está escrito na testa! Ora, ora… Saudade é coisa mesmo de curtir, mexer o gelo no copo do Scotch. Uma vontade de esticar o braço, abraçar, pousar as mãos sobre o rosto daquele ser, beijar! Ah, beijar… No beijo a saudade quase acaba. Mas sentir saudade junto a quem sente a mesma saudade é fogo na bomba! Tem gente que fala em matar a saudade. Mata não… Deixa ela meio moribunda, mas não deixa morrer porque senão o amor perde sentido. Sentir a saudade começar a reviver é como ver aquela velha orquídea florescer. Saudade é tocar dó ré mi fá na flauta doce, fechar os olhos e pensar no Bolero de Ravel!


CRiga.


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