Vou viver
no limite íngreme
da minha
alma que já não é tão pura.
E se você
não vier de branco
feito anjo
me salvar do devaneio,
vou ser
mármore tão negra.
E se você
não sorrir
e se você
não me ouvir
e se você
não me abraçar
e se você
não existir...
E se você
não vier?
Se você não
vier
vou
renascer das cinzas do que já sou.
Eu sou as
cinzas que bóiam no teu ar,
que
aterrorizam teus olhos sem cor
numa
trágica noite de inverno,
depois do
vento insano sem direção
invadir a
tua casa decorada
morango de
prateleira.
Só que
você, metódica,
limpa a tua
casa com talento,
lava o
rosto petrificado
com
sabonete neutro, água morna
e vai
dormir,
como se não
existisse o dia
que você me
deu um beijo.
Como se eu
não existisse,
como se eu
fosse pedra vulgar
ou mármore
tão negra.
Como se eu
fosse ressuscitar
sem limites
no teu
seguro lar tão puro.
Como se eu
fosse o retrato velho
sobre a
triste escrivaninha de cedro
esquecida
no sótão escuro.
Como se eu
fosse vírus
esperando
tua hemorragia
me libertar
do desespero.
Como se eu
fosse o fóssil
daquele tiranossauro
rex
que um dia
quis ser bonzinho.
Como se eu
fosse fácil,
como se eu
fosse frágil,
como se eu
tossisse sangue
feito poeta
do Romantismo.
Vou viver
no fútil limite
desta alma
que só queria
ter você de
fato um dia.
E se você vier
assistir a meu desespero,
vou sorrir
sarcástico,
dar adeus
com a cabeça,
virar as
costas
e voar
sobre o penhasco.
E só
sobrará teu eco dissonante
entre as
montanhas seculares
naquela
trágica noite de inverno:
“eu amo você...cê...cê...”
E ficará esperando
resposta
no limite
íngreme do penhasco,
e ficará
esperando eu voltar de branco
feito anjo,
pra te
salvar da tentação
de vir
comigo devanear.
E ouvirá só
o som da lágrima
contra a
rocha seca,
que não
ressoa eco
nem alivia
a dor.
E rezará
por mim
e pedirá
minha proteção,
e lembrará
os dias
em que
nunca fui anjo
e quando
roubei um beijo teu.
E desejará
com a alma
eu não
estar te vigiando
e continuar
não sendo anjo
só pra
roubar outro beijo teu.
E você
viverá no limite íngreme
da tua alma
então tão negra,
perdida no
vale das pedras
nas
mármores tão puras,
perdida nas
noites escuras
que eu
fundei
enquanto
amei você.
Nossa Cauê lindo! Adoro uma melancolia!
ResponderExcluirOi Lu!
ResponderExcluirObrigado por mais uma "visita"!
Bj,
Cauê.