terça-feira, 25 de abril de 2017

Âncora


Há um desafio, um fio de voz,
e eu não tenho tempo –
sou apenas o silêncio torto
contemplando a foice amiga rasgar
o peito pra me resgatar.

Há laços que se fazem nós
sob os pés cansados, eu não sei fugir.
Precisam de mim pras tantas missões
e eu sou navegador sem ambições
nesse mar de rimas pobres.

Eu me acorrento à velha âncora 
com medo de o maremoto me levar.
A fuga pela praia só tem mata
não tem horizonte, eu preciso chegar lá.

Eu carrego nos dentes a corda de enforcar
e espero parado o mar se abrir.
Eu preciso chegar a tantos lugares,
tantas rotas, me encontrar.

Mas entre tudo o que me prende,
a tarde de outono sopra maliciosa
a pergunta cortante
faca afiada na face ao vento:  

o que você tem feito, camará,  
pra de fato ser feliz?


CRiga.


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