segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A pele que ferve


Estou louco. Sou. Só agora sei. Suspeitava. Suscitam vulcões na pele. O sangue não é de todo ruim, mas não para de sangrar. Sintomático. Sinto muito, automático provoco feridas. Em mim e em quem amo. Os pés no chão me esfolam o corpo todo. Eu desaprendi a voar fugindo da dor. A fumaça ajuda a brisa, o vento traz a chuva e o doce cheiro do asfalto. De longe, o suspiro ofegante me devolve a mim.

Um rapaz se matou enforcado, na casa ao lado. A vida que é muito louca – a mãe acarinhou seu rosto perguntando-se por que, e o pai quis forrar a garagem pro morto não sentir o chão gelado. Ninguém sabe por que a corda nem sempre arrebenta do lado mais fraco...

Faço um trato – os domingos não serão mais loucos. Apenas eu, à beira dos barbitúricos que mataram Elis. Eles não vão saber por que – nem eu sei por que minhas unhas cavocam sôfregas procurando segredos nus na pele branca, agora em chamas. E me chamam a atenção. 

Eu me chamo louco. Uma pessoa então comum.

CRiga.


Nenhum comentário:

Postar um comentário