segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Dedo na tomada


Espera de volta
a visita de domingo.
Emagreceu no pescoço,
caiu na calçada, machucou o joelho.

Doeu em mim lá dentro –
parecia eu o vizinho maldoso
trocando o piso do passeio
pra derrubar idosos distraídos.

O cabelo curto, já grisalho,
cresceu um pouco por descuido.
Não cobra telefonemas, só pede mimos,
declara amor a todo momento.

O sábado cinzento foi pouco tempo,
e de fato escureceu à noite –
mas não consegui dormir
de arrependimento.

É assim mesmo, de repente.

Quando senti o dedo na tomada
mamãe e papai estavam velhos,
e não havia mais motivos
para ser eu o consolado.

Quando caí aprendendo a andar
mamãe e papai já não estavam mais lá
pra me levantar.
Não são mais meus
os braços a segurar.

Quando a gente cai em si dá vergonha
esse egoísmo de arranjar culpados
pela tomada descoberta
pelo tapete no caminho.

CRiga. 

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