segunda-feira, 17 de outubro de 2016

“O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da inexperiência” *


O tchau foi um adeus,
só ele não sabia.

“Faltava força nas canções...” 
Quando chega a tal da “experiência”
tudo o que não é mais tão bem feito
“na sua opinião”
vira violinha desafinada de fundo de balde.

Quando caiu em si
também não fazia mais questão.
Porém, não perdeu oportunidade
e compôs uma nova canção:

amor de ontem amanheceu já velho
paixão de hoje é um dia a mais
pra te empurrar da beira do cais.
Eu quero experimentar muitos sóis
solos imperfeitos e a voz sumindo
porque gritei demais a intensidade
da vida que você não faz mais parte.

Gravou num gravador cassete,
a fita enroscou no walkman.
O estúdio emprestado de um amigo
não fez o refrão crescer.

Um dia esqueceu o papel anotado
numa gaveta do passado.
Na mudança o mofo comia as cifras
e as letras mais pareciam
caderno de caligrafia.

Resolveu flertar com o pulso
menos pulsante – a tal da “experiência”.
No smartphone abriu o aplicativo
e ainda sem o mesmo talento do filho
teclou as letrinhas reformando a canção:

amor de sempre renasce novo
paixão de ontem mofou na gaveta,
eu não quis nunca te matar.
Eu quis experimentar vôos solos
sóis que davam num lugar escuro,
então parei de gritar chamando atenção
e ganhei então meus menos defeitos.

Guardar onde, então?
Do antiquado blog mofado
é que nunca abrira mão!

CRiga.

*Nelson Rodrigues



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