terça-feira, 4 de agosto de 2020

Ensaios de grandes amores


Naquele fim de mundo
eu só ouvia a tua voz me chamando
comparando cores
frutas
texturas.
Era como a pera da Cidade dos Anjos,
feito o morango de Caio Fernando Abreu.

No limiar entre a tristeza profunda
e um piscar de luz no fim do túnel,
você estava lá me indicando um caminho
que nunca ia mesmo dar em nada.

Mas fui te pedindo desculpas,
eu era aquele garoto bobo
confrontado no corredor da escola.
O amor era o mais puro que podia ser,
e eu simplesmente disse não
desviando o olhar
culpando amigos por uma pilhéria juvenil.

Eu era o pré-universitário que sabia
que me arrependeria
de não ter agarrado a tua cintura
e de não me afogar de amor
no eterno verde dos teus olhos.

Cantamos juntos até a bebida cair.
Viajamos de volta e na volta me perdi.
Dançamos a soul music, corpos quentes,
mas não desabotoei a tua camisa rosa
num sábado de um apartamento nos Jardins.

Dormimos juntos e você nua
saíste tão pura como a flor.
Roubaste meu beijo numa esquina
e devolvi meu calor pós-carnaval
num barzinho esquecido de Pinheiros.

Redescobri o Brasil pelos teus olhos azuis
mesmo sabendo que havia
um oceano entre nós.

Aquele fim de mundo ensaiava
romances
no asfalto que ruía
no mar que me engolia.

Enganei a morte nos atalhos,
a sorte sempre quis me dar
um novo grande amor para contar.
 
CRiga. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário