terça-feira, 7 de abril de 2020

Aquele cara dos dedos finos


Sobrevive
à procura de uma nova história de amor.

Desce o escadão de madeira que range
a idade da casa velha,
mais uma garrafa de conhaque a tira colo.

Para em frente ao piano desbotado.
Contempla o porta-retratos,
aquela linda e besta felicidade juvenil.

Senta-se à banqueta de couro ressecado,
o cálice trincado perdido na atmosfera.
Amareladas teclas – até um bom vinho francês
já manchou reputações.

Um indicador maceta o marfim, débil,
ensaia apenas uma melodia sem nexo.

O sexo dos anjos.
A solidão dos deuses.

Num gole mata o conhaque
num ímpeto baixa a guarda do teclado.

A madeira soa todas as notas graves do abandono.
A brisa agora é o cheiro da chuva que chora
um amor que nunca teve rosto.

Mais uma noite –
a morte sorri sedutora na varanda.

CRiga.


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