terça-feira, 18 de junho de 2019

Rocha lisa (canto do desencontro)


Duro é quando a água para
de bater na pedra,
e você tem tempo de querer sentir
nos olhos o sal.

O mar secou, diria Drummond.
Eu não sou duro, José.
Eu sou a água
que parou de bater na pedra.

Eu sou também a pedra –
rala lisa nua de cara exposta
ao vento cortante que vem num assovio
do leito deserto um dia mar.

De repente a onda (eu espero)
vai me levar.
Explodir como nos pesadelos.
Daí posso ver teu rosto refletido na lua vermelha
enquanto submerjo levemente morto
no mar do desengano.

Mar tranquilo sem tempestades
tubarões e godzillas.
A tal da bonança.

Quando tarde demais os escafandros descobrirão
uma carta borrada no bolso do surrado jeans –
apenas uma poesia pra você, nobre arqueologia!
O dia em que eu finalmente decidi
te procurar nos versos que não saíam.

Pois duro era quando a pedra rolava o penhasco
e você, na beira do precipício,
me esperava encontro marcado.
Sempre nos desencontramos...

Eu não honrei canções...
Não te esperei feito pedra postada à beira-mar.
Eu me gastei. Virei cascalho. O vento me levou.
O mar voltou a ser o mar.

E você, aros pretos nos olhos cansados
da lua vermelha,
resolveu sangrar a lágrima
que meus olhos não conseguiram chorar
àquelas tardes.

E era muito tarde.
As letrinhas já subiam
dando os créditos no final do drama.

Quem ama em silêncio
encrudesce a poesia...

CRiga.

Nenhum comentário:

Postar um comentário