quinta-feira, 6 de junho de 2019

A vida cavalga


É o inverno que muda as coisas, me faz lembrar de você de novo como se eu fosse a culpada por não ser feliz. Talvez seja mesmo, talvez você nem se lembre mais de mim, então remexo velhos pertences e não me encontro, só encontro você. Remexo números, não te encontro, ligo à telefonista, simpática, quase chora comigo, esses homens que nos esquecem são foda... Esse é o número mais próximo, então ligo, você não está mais lá, mas alguém diz “ele está em tal lugar”. A telefonista me dá então a porra do número do tal lugar, sem certeza penso te encontrar, alguém atende pelo teu nome, te encontro, é você, meu antigo amor!

Simpático como sempre! Casado, mas simpático. Com um filho, mas tão amoroso como sempre. Mudei de casa, você não sabia, e você me disse que foi me procurar numa noite com flores e vinho às mãos, e que por isso não me encontrou. Mentirinha bonitinha, me conquistou. Que saudades de você, do seu beijo, do seu abraço, do seu amasso. Acho que aproveitei pouco, muito pouco, não te dei devida atenção, eu sei, me arrependo, sou libriana, quero tudo vindo, quase nada indo.

Mudei de jeito também, você não sabe? Não saio mais em tantas baladas, parei de fumar, me conheço mais, gosto mais de mim, estou só um pouquinho mais gordinha, sem tanta diferença, acredite, estou mais bonita. E não cavalgo mais, você acredita? Eu também. Só falta você pra completar, mas não tenho coragem de dizer. A vida cavalga, eu parei.

Determinado momento você disse que é importante agarrar as chances quando elas vêm. Não esperar que aconteça, apenas estar esperta para a hora que acontecer. Sei que não foi por querer, mas parece que isso me feriu lá dentro, sem você perceber. Eu sei que não foi por mal, meu amor, nada vai me fazer tão mal quanto esta vontade de te pedir desculpas sem tempo, essa vontade louca de voltar no tempo e te agarrar, esperar que aconteça e estar esperta para fazer acontecer.

Bem, me ligue um dia também. Vamos sair, quase eu disse, tomar um chope, você não pode, agora tem família e não vou insistir. É errado, nem sei se tenho coragem. Acho que teria, te beijar de novo como antes valeria. Matar-me mais um pouco por não ter você, recriar-me por segundos eternos nos teus braços que um dia me tiveram mulher.

É o inverno que muda as coisas assim, faz a gente amanhecer cinza com saudades do passado que passou entre os dedos, feito areia de ampulheta que a gente não agarrou. Eu te amava e não sabia, me perdoe, meu amor. Seja feliz, seja feliz, vou desligar. Eu ainda tenho a poesia que você fez pra mim, preciso desligar pra não chorar. A vida cavalga, eu não mais...

CRiga.

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