sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Metendo a colher


Não tenho muita certeza quanto ao pranto, se lava, se amarrota a alma com a calma de um câncer. Também não sei se é fácil seguir em frente como que faltando o dente e comendo a pedra.

Siga os cartazes: há uma lágrima pra cada coração partido! Pelo menos uma, ou pior, a lágrima etílica. Então jogue na pia os litros de uísque escocês e deixe um CD de músicas clássicas à mesa, de manhã, pra um filho lembrar da serenidade que é você.

E mesmo que os ares de uma juventude distante te sufoquem tanto agora, te machuquem os dedos loucos fincados num teclado de computador, assim aos poucos, deixe de lado reinventar a história, não existe amor errado, apenas resiste essa falta:

Da arte, cadeiras juntinhas num cinema, num teatro.

Dos bares, dois chopes e olhares eternos cruzados sobre a mesa.

Da música dos lares, talvez uma dança como antigamente sobre o piso novo da sala mais espaçosa, com saudades dos pés descalços roçando a madeira.

Da cama desarrumada, a preguiça às manhãs de domingo.

Do caminhar num dia lindo, mãos dadas nas ruas com árvores verdes dando bom dia.

De um passeio logo ali, no Pari ou em Paris.

De uma nova poesia, uma nova “nossa música”.

Ou só falta a morte – fatalmente, finalmente, fielmente – nunca mais separar vocês.

CRiga.


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