Os dedos
passeiam entre querubins
de gesso na
estante,
e o pó se
digitaliza história confusa
na mão que te
procura.
Entre os
bibelôs de uma vida que passa
eu apenas
adormeço, nas asas de um anjinho,
meus sonhos
de voar.
No canto onde
deixei reservado um retrato teu,
me procuro
como se fosse cura de vírus
ou como se
você tivesse deixado a pista
usada pra um
dia me reencontrar.
O doce da
infância agora faz sentido,
mas a
puberdade é dissonante.
São somente
fotos velhas desbotadas
guardadas no
baú do sótão mal-assombrado
da memória do
coração.
Ouço Beatles,
reviro cadernos
e álbuns de
fotografia,
e a puberdade
corre costas
cidades e
verões.
Mas me canso
e o anjo grita
o famoso
ponto final –
é preciso
descer, ainda sem fama,
sem grana e
sem um par.
Os Beatles da
segunda fase
agora fazem
mais sentido.
E tudo gira
como se fosse
o carrossel
do perigo
que meu amigo
cantou numa canção.
Meu filho,
carinha de anjo
numa estante do futuro me fita, interrogação:
papai, onde
está você?
Perdido no pó
caminho
só pra te ver
crescer.
Perdido só,
no cantinho
feito feto
quieto no ventre
sem a púbere
memória enterrada
que você há
de devolver.
CRiga.