terça-feira, 16 de outubro de 2018

Proibido passear na praça



Não me agradam heróis engravatados
ou muito bem barbeados, cara lisa
verniz dos bancos da igreja polidos pro domingo.

Mas também me chateiam as bandeiras coloridas
que se enfiam até num filme de ação
querendo mudar o sexo dos super-heróis.

Me enoja quem me cobra lados
quem exige assumir uma posição
entre o dedo em riste
e a provocação exagerada.

Entre as flechas podres flechas
do caçador guardião que acerta a esquerda
e do falso índio que desfila nu para a direita.

Pender de lado é morrer flechado
pregado na árvore velha da praça.

Aquela grande árvore da esquina
que desgarra folhas demais
sujando as calçadas dos senhores de bigode
à direita de quem passa com pressa.

Aquela mesma que se parece
um falo enorme capado
culpado, amordaçado, símbolo da opressão
à esquerda de quem corre da patrulha.

Sente-se à única sombra
e finja-se de morto.
Risque seu amor no tronco
e ajude depois a limpar o gramado da praça –

haverá muito trabalho, camará!
Bora reinventar
aquelas nossas mais belas primaveras.

CRiga.



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