quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Atrás dos olhos azuis


Há gente que não acredita que estou lá. Mas cada vez que estou em algum lugar, tenho certeza de onde não quero ficar.

Quando falta o adjetivo costurando o verso que você procura lá no fundo, até forjando doces memórias, é porque morre um pouco de ti no moedor de carne das avenidas, das vidas que não te importam. Adoece o talento de curar feridas d’alma elogiada apenas discreta. Impossibilita o trago na fumaça confusa, fazendo das nuvenzinhas sem graça que pairam sobre teus pensamentos o doce algodão doce com gosto que ousa um Drummond.

Há um poente doente, o dia de sol que não vi, o calor que não senti. O ar condicionado me rouba a tentativa de brisa, porque a briga das máscaras neste sempre carnaval me afasta, me gasta, me dá gastura e vontade de fugir.

Os atores são os mesmos, os cotovelos invisíveis querendo espaço no alto verbo, no alto relevo. Às costas as pás cavam as covas, dê um passinho, por favor... O chão de madeira velha é polido pro tapete bem deslizar.

Ferino, felino, rapina, estou em cima sem você me sentir. Sem braço, mais um João, finge-se aleijado, mais um abraço, beijinho de oi e de tchau. Eu hoje nem beijei meus filhos, me deixe afundado na honestidade que luto pra não se envergonhar.

Faz tempo que não vejo gente assim, aliás, me faz um bem não reconhecer de cara: meus olhos azuis, fiéis como um cão, são estes mesmos que você sempre verá.

CRiga.


Um comentário: