quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Lugar para chamar de lar


Como acaba, minha cara, esta história de calvário? Um caralho essa coroa de espinhos, esse cristinho falso pedindo logo a cruz. Divida o pão embolorado e deixe que a memória busque dos pés na lama apenas uma doce lembrança de infância no interior.

A dor sempre resistirá, doerá, há congestionamento em nosso lar, a avenida está cheia dos guardas recém-formados na academia de suas ilusões. Não há ruas alternativas e nem tenho mais idade para esconder-me num quarto escuro pensando em suicídio, ou à meia-luz esperando a meia-noite dar-me um dia a menos nessa história fraca de sobrevivência.

Como acabam nossas almas no final do corredor? Haverá um novo projetado até os novos quartos - os quartos de cada um. Mas nunca haverá mais idade para fugir. Nunca haverá cidades, fantasmas ou reais, cujos ventos, feito dunas, enterrem desacertos.

Eu tenho medo da casa congestionada. Tenho medo do novo lar – nele já há fantasmas disputando quem melhor sabe vestir-se de passados para atormentar.

Mas também talvez, eu e os fantasmas, bebamos cachaça. Talvez sejamos bons amigos. Talvez fumemos o fumo proibido do pai chifrudo. Talvez até cantemos uma oração – laia ladaia sabadana ave-maria!

Como acaba esta história, ninguém sabe – cabe a arquitetos, pedreiros, marceneiros e outros tantos eiros ajudarem a enterrar um pouquinho o pó que insiste ficar na impressão dos velhos lares. Cabe à luz saber se ilumina, se é meia ou apagada no momento certo, antes de os fantasmas ficarem brabos ou embriagados. Cabe a nós ocupar-se de viver, beber uma cachaça, fumar uma oração. Compor uma nova canção de amor.

CRiga.

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