quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Até que o pecado santifique

Ainda contigo na memória do coração
reconheci anjos no meu caminho peregrino
onde fugi, assustado e inconseqüente
como criança que tem medo de dizer
que se apaixonou pela professora mais bonita
e sonhou um beijo proibido
atrás do muro da escola.

Numa manhã
um deles sorriu pra mim como antigamente
me deu um beijo quente na minha cama:
talvez redenção
talvez tudo o que você ainda não entenda
não por culpa tua
não por culpa de ninguém.

Prometeu voltar num dia claro
na mesma chuva confortante
de uma primavera diferente.

Até lá vou confiar na sorte como bom cego
confiar no teu sorriso que me alivia o ego
confiar no teu caminho
que ainda não confia em mim.

Até lá vou assassinar noites sem fim
procurando acertar a rota,
que um anjo de asa quebrada
me cantou, com um sorriso de pena,
desviei por livre arbítrio do coração.

Até lá vou estar meio vivo, meio morto
torto mensageiro das sujas esquinas
aborto das emoções baratas
nas portas dos bares, nos ares de inverno
nos portões do inferno da grande cidade.

Até lá terei o que me resta, pouco,
uma fotografia desbotada
uma carta já borrada
com promessas de “para-sempre”.

Até lá,
sabe lá Deus quando e onde!...

Até lá poderemos ser os mesmos
ou mesmo tão iguais
que não valha a pena um dia novo
não valha a cena de cinema
não valha o beijo guardado
com sabor de mofado morango.

Não quero ser o mesmo...
quero não mais errar na estrada
quero não mais fugir de casa
nem me calar frente aos acusadores.

Quero roubar a rosa do jardim da escola
beijar sim a professora mais bonita
e sair com ela pelo portão da frente
desafiando os olhos da multidão.

Quero uma primavera sem tanta chuva
uma tarde na praia nova do antigamente
e o mesmo sorvete de morango
mas com creme e um copo d’água.

Quero a redenção dos anjos tortos
a rejeição da moda, a hora de dormir,
quero amar como sempre
e nunca amei.

Quero que você entenda
e não apague a vela que acendi
ao lado de teu leito eterno
que fundei p’ra resistir no tempo.

E até você voltar de branco
feito santo desafiando a santidade
serei cordeiro sem missão
pedreiro sem próprio chão
ópio de soldados mutilados
ronco do trovão
chuva de domingo
sono sem sonhos
pesadelo sem dormir
paz de cemitério
etéreo
vampiro
o tiro no mensageiro
o letreiro de azul neon
da boate no centro da cidade.

Quero que você volte da fumaça calma
após o incêndio do lar que não deu certo
quero estar por perto
dar-te não o vinho que guardei
mas o beijo santificado do caminho
onde pequei sem tempo
e te esperei sentado
com um novo verso –   
um verso de amor.



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