sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Grito abafado


Parto do ponto onde você partiu meu coração. Além do asfalto, rude praga que ficou pra trás, tem meus óculos escuros disfarçando tristezas, desafiando os domadores de leões, mas, principalmente, procurando você na multidão.

Parto do tempo em que você pariu minha oração. Além da fumaça cinza que borra esquinas em que você passou, tem meus pés que correm depressa disfarçando o cansaço, desviando-se de vira-latas sem espírito, mas cruéis feito a plebe que condena apedrejando pelos muros vários Cristos com medo de amar Madalena.

Parto do ponto onde você partiu. Onde você quebrou esquinas e promessas e depois voltou bruma venenosa típica dos sonhos tristes fazendo nada, absolutamente nada, além de sorrir maliciosa à beira do abismo, mergulhando relâmpago, bem fundo, onde se ouviu apenas ecoar o triste som da lágrima contra a pedra, a lágrima que encerra, a lágrima do parto, do feto morto, do anjo torto, sem arpa, sem prece...

Então me leve, eu não pertenço a mais ninguém.


CRiga.



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