Se essa rua se essa rua fosse minha, eu fechava só para você passar.
Mas um de nós quebrou estrelas sem autorização dos deuses solitários. Os cacos
ainda estão naquela esquina. Naquela maldita esquina que você não quis mais
quebrar.
E ela não quebrara mesmo aquela
esquina. Como vingança de tempos ginasiais, quebrara sim a promessa de passar
por ali novamente e irem juntos ao ponto de ônibus. Ele ficou esperando, tempos
e tempos, à frente o portão, à espreita da janela, mas a hora ia vencendo o
desejo e a noite escurecia sua esperança que era morena.
Ela nunca mais passou por sua
rua. E ele nunca desistiu, e mesmo depois de anos, passados namoradas e
casamentos, sempre que ia à velha casa da mãe olhava em volta na esperança de
vê-la passar. O seu sonho juvenil, o seu sonho que nunca morreu. O seu sonho
que quebrou uma promessa e nunca mais passou por ali, deixando ele com aquela
vagacidade no olhar, na vida, aquela saudedezinha besta juvenil, tão doce que
sempre voltava ao portão da casa.
Um dia ela vai voltar, não apenas
nos sonhos mais intensos, aqueles que ele acordava suado com tantas saudades do
que não foi. Ela voltaria mais tarde, na hora certa, que sabe tão tarde que a
hora certa seria apenas um eco descendo a rua à procura de sua cor morena.
Ele nunca tirou os olhos e o
coração daquela maldita esquina. Envelheceria à espera, mas a veria na curva, subindo
a rua à caminho do ponto de ônibus. E ofereceria, de novo, sua companhia. Ela
aceitaria. E cúmplices do tempo perdido, promessas perdoadas, as mãos dadas
naturais falariam tudo, diriam tudo o que nunca foi.
Depois disso, um ônibus qualquer
os levaria. Já não importava destino, só o reencontro. A esquina maldita para
trás, a avenida larga pela frente. E um olhar daqueles tristonhos, de tempos
que se arrastaram quase eternos à espera, uma vontade de esganar a vida, voltar
no tempo e maldizer os desencontros. Mas não precisava. Mãos dadas no
finalzinho da rua, passos lentos, breves relatos, amores que não deram certo,
saudades e doces lembranças.
Da esquina cega, apenas um muro
novo protegendo um novo lar, na rua onde ela vai voltar. Tem que voltar. Assim
termina toda a história com final feliz.
Se essa rua se essa rua fosse minha, eu fechava só para você passar.
CRiga.
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