quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Toada de um amor vagabundo


Desmazelo
vovó diria
até o dia
que eu pedisse desculpas a Glorinha.

Amor cachorro…

Depois diria: “essa menininha é ouro”.
E eu dando no couro
mas evitando bisnetos dela –
no meu tempo santa é a camisinha.

Bandido!

Depois brigaria de novo.
Glorinha que era minha deu pra outro!
E vovó não sabendo de nada
disse o que parecia tudo:

Glorinha dá pra quem quer
e você que não a trate bem
que vai virar piada também
na cama de quem a comeu.

Peguei um trem.

Então matei Glorinha
e na volta chupando sorvete
apontei a mesma arma para vovó:

Mate que sou mesmo velha...
Pelo menos no inferno onde vou
ouvirei com gosto feito mãe ausente
Glorinha falando que amava você,
que doce diabinha!

Que graça que a vida tinha?

Vovó só morreu de velhice
e nem pito me trouxe na cadeia
antes de a corda amarrada no teto
dar cabo de minha vida
naquela cela fria.

Glorinha?
Virou santa e ganhou devotos
com pôsteres de borracharia.

CRiga.


(4º lugar no Prêmio Barueri de Literatura/2018)



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