Calhou que era sexta-feira 13, e os quatro
amigos se encontrariam à noite na casa de árvore. Brincadeira macabra, mas bem propícia
ao encontro naquela data – ouija, à
luz de uma única vela. Ou o “jogo do copo que anda”, como diziam os mais
antigos. Pela falta de um tabuleiro original, foram mesmo na onda dos mais
velhos – papeizinhos recortados com as letras rabiscadas a Bic, um “Sim” e um
“Não” e um copo americano sujo de guaraná.
Pelos dedos de um dos garotos o copo
andou. Depois de anotadas as mensagens do tal espírito, ficou marcado que a
brincadeira continuaria às seis da manhã do sábado 14, mas cada um à beira de
um edifício no centro da cidade. Um passo à frente ao precipício e eles
virariam a notícia que explodiria em espanto e morbidez – “Suicídio coletivo de
adolescentes choca o País”. Algo bem mais vistoso que aquele caso de outro
garoto que se matara um ano antes também dando um passo ao nada, do topo de um
edifício, num sábado de sol. E ninguém nunca soube por que.
Depois do “jogo”, cada um fez seu
juramento ante o toco da vela, a juíza que selou aquele pacto estranho. Reviram
locais e horários, e cada um foi para sua casa matutando pensamentos. Entre os 13
e 14 anos de idade, quase todos pensam de forma semelhante. Mas o sábado já
estava próximo demais – o que rolava na cabeça de cada um daqueles garotos?
O primeiro, o que comandou o copo no
joguinho macabro de sexta, estava em seu posto no dia e hora marcados. Olhou
para o topo dos outros edifícios procurando os amigos, não via ninguém – e pela
distância nem daria mesmo para ver. Trêmulo, deixou escapar lágrimas de um medo
juvenil, de uma cabeça confusa com brincadeiras, pactos e notícias de jornal. À
beira do precipício só tinha que dar mais um passo. Hesitou. Explodiu num choro
convulsivo. Virou as costas e correu de volta, menino assustado, talvez para
cama dos pais ainda dormindo, talvez para o cemitério visitar um certo amigo
seu.
O segundo chegou com o velho skate a
tira colo. Olhou o brilho do sol daquele sábado, lembrou da brincadeira de
sexta e tinha certeza que encontraria os amigos na pista do parque municipal.
Deu um sorrisinho de cumplicidade, meia volta e foi embora curtir o half pipe com um hip hop no fone de
ouvido. Ali em cima, de vontade, apenas a de nunca mais fazer promessas
impossíveis de se cumprir. Não esquentou e para sempre foi feliz.
O terceiro nunca ia bem com horários, e
como todo o adolescente a preguiça de levantar da cama falou mais alto. Acordou
depois das 8 da manhã, olhou o relógio e nem se preocupou: virou o corpo para
revezar o sono de outro lado na cama. Acordaria com o grito ao portão de casa e
a mãe batendo na porta – “tem um amigo seu te chamando pro parque!” Levantou
com cara enrugada e perguntou ao amigo sobre o pacto de sexta. “Da brincadeira?
Sei lá! O copo andou empurrado pelo dedo, acreditou que foi espírito? Ora!” Ele
confiou e também foi ser feliz.
O quarto garoto... Bem, a história deste
era mais triste. Preso ao copo americano na casa de árvore, nunca convenceria seus
amigos a brincar com ele num sábado de sol.
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