terça-feira, 24 de abril de 2018

Dark lover


Eu garimpo sorrisos sobre a rocha lisa do desencanto
porque meu coração de pedra aprendeu a ser só.

Eu ensino o nó do marinheiro mais antigo do cais
e no mais,
sou o som da gaita solitária ao por do sol.

Nas esquinas eu assovio um samba esquecido,
a fogueira no tambor na verdade
me lembra um velho blues.

O cheiro do asfalto molhado
e o som do pneu contra a chuva
me dão a sensação de que nunca envelheci,
de que sempre sofri.

Eu sempre amei
como o último noturno da cidade que dorme.

Eu via luzes refletindo um neon de esperança etílica,
uma avenida cheia de carros que nunca me lavariam
a lugar algum.
Na mesma madrugada não havia mais ônibus,
itinerários nem eram assim tão importantes.

Restava então apenas o passo sobre cada passo,
um tênis surrado até a nova casa alugada.

Passei por sobretudos, viadutos,
aglomerações e olhares furtivos.
Me desculpe, eu me apaixonei,
não sei a hora de ir embora.

Estava frio, outono, e eu vi você sorrir.
Você dançava sobre a pedra do jardim severo,
a pedra do desencanto.

E eu te emprestei meu velho sobretudo.
E depois de tudo você me esqueceu.

CRiga.


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