domingo, 15 de abril de 2018

Setenta


Não consegue mais rugir. É uma leoa cansada.
Lutou muito na selva. Não tem cadeira de balanço.
Deixava a casa desarrumada.
Não me lembro de muito amor.

No começo corria corredores dos ônibus,
tudo limpo, trazia pra casa o pó do mundo.
Depois de novo subia andares,
guiando novos elevadores –
pra vida não tem mesmo guia de bolso.

Cansou. É uma leoa deitada sobre a relva.
Não tem cadeira de balanço mas tem um xale.
Não tinha tempo nem de se arrumar, um rouge.
Um dia eu acordei com ela me botando os sapatos,
peguei no sono antes da escola, ela não brigou.
Acho que isso é amor.

Para Ermina, minha mãe.

CRiga.



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