segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Minotauro


Algo me diz que estamos vivos,
eu desaprendi acreditar.
Há no ar o perfume das futuras árvores,
há Brasis melhores, aquela república federativa.
Algo insiste bater a porta da alma fechada,
a casa resiste, estará em eterna reforma?
A chuva desta segunda é confortante,
de novo o som dos pneus contra o asfalto
falam bem alto, você sempre será um urbano.

É que eu amo, mas não sei ao certo o quê.
Ilusões são a busca pela fala do espírito,
ele muitas vezes emudece, parece um espantalho,
padece até a rima rimar com lugar comum.
Eu sou apenas um, mas sou muitos também.
Sou homem, sou mostro, sou monge ateu.
Sou meu, só meu, quem é teu morreu nos teus braços,
o suicídio perdura, eu tateio no escuro
procurando achar de novo teu coração.

Aos dezoito poderemos ser presos,
impossível mais do que já estamos –
o marginal sou eu, eu te roubei na esquina,
te matei com um tiro pelas costas.
Nesta minha perpétua prisão, a maioridade
é apenas uma notícia que o jornal não deu.

Aos dezoito eu já era impura lava de vulcão
adormecido, olhos silenciosos, minotauro –
nunca quis vencer o labirinto, eu sinto muito,
eu estou perdido pedindo o perdão
que nem eu mesmo posso me dar.

CRiga.


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