segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A cotia e o bulevar


Eu tinha um duelo agendado,
dia de morrer como herói.
As ruas estavam preparadas
pra minha passagem triunfal,
postes enfeitados, cartazes de São João
e uma praça cujo coreto imaginário
me olhava sorrindo orgulho.

Eu não fui, eu não morri.
Depois me trancaram na jaula do velho leão
que por pena devorou apenas meu espírito
sem registrar minha carteira profissional.

Depois de perdida a hora, os anos,
madrugada peguei um ônibus vazio
e fui pra longe longe
sentado à janelinha da solidão.

Lá no longe havia luta
havia luto, uma ladeira pra subir.
Mas não havia mais arena nem festa
apenas uma janela pra ver de longe
a cidade que não diz
o que ela pensa de mim.

Quando eu morrer envie a conta
hão de querer pagar
hão de noticiar que meu corpo
partiu doendo, mas inteiro
sem se humilhar no velho bulevar.


CRiga.


Nenhum comentário:

Postar um comentário