quinta-feira, 16 de maio de 2024

Um outono sem conspirações

 


O outono e sua faca cortante
De ódio contido.

Frio seco feito lâmina na cara que encara o caminho, 
Um doce crime nos espera,
Licor de ácido na boca da noite.

Céu de estrelas atrás da fumaça,
A feia urbanidade vira poesia.

O dia uma boba fuga prum café subversivo,
Na esquina do beco.
E com a ex-secretária do velho partido
Tramar revoluções embaixo de cobertores.

O outono e sua face de sensações
Contra o sentido da areia da ampulheta.

Violeta murcha, rosa que não a vermelha.
Dor no peito que não o sangue 
Da autoritária bala de borracha.

Estanque o desejo, guarde o frio seco
Quase sangrento no fio da faca.

O outono e seu eterno vinho pela metade
Escondido embaixo do casaco da cidade.
Já não somos mais tão jovens,
não temos mais conspirações.

O outono agora é só a impressão
Da tola importância que demos às boinas,
Cadernos nos bares
E poéticas revoluções.

O outono e sua faca cortante
De tantas desilusões.

CRiga.


Nenhum comentário:

Postar um comentário