Eu garimpo
sorrisos sobre a rocha lisa do desencanto
porque meu
coração de pedra aprendeu a ser só.
Eu ensino o
nó do marinheiro mais antigo do cais
e no mais,
sou o som da
gaita solitária ao por do sol.
Nas esquinas
eu assovio um samba esquecido,
a fogueira no
tambor na verdade
me lembra um velho
blues.
O cheiro do
asfalto molhado
e o som do
pneu contra a chuva
me dão a
sensação de que nunca envelheci,
de que sempre
sofri.
Eu sempre
amei
como o último
noturno da cidade que dorme.
Eu via luzes
refletindo um neon de esperança etílica,
uma avenida
cheia de carros que nunca me lavariam
a lugar algum.
Na mesma
madrugada não havia mais ônibus,
itinerários nem
eram assim tão importantes.
Restava então
apenas o passo sobre cada passo,
um tênis
surrado até a nova casa alugada.
Passei por
sobretudos, viadutos,
aglomerações
e olhares furtivos.
Me desculpe,
eu me apaixonei,
não sei a
hora de ir embora.
Estava frio,
outono, e eu vi você sorrir.
Você dançava sobre
a pedra do jardim severo,
a pedra do
desencanto.
E eu te
emprestei meu velho sobretudo.
E depois de
tudo você me esqueceu.