quinta-feira, 28 de março de 2024
A tentação de olhar para o relógio
Dá sono.
Crise.
Peso na consciência...
Só problema!
Sabe cuco tiquetaqueando?
Maluco na bomba relógio do sujeito na hora hagá.
CRiga.
terça-feira, 26 de março de 2024
Correção ortográfica
Enquanto
finjo que trabalho
Escrevo um
rocket pocket haicai –
Que o fogo
não vá à brasa
E que à casa
não falte brisa.
CRiga.
segunda-feira, 25 de março de 2024
O que nos resta
Paixão platônica
A poesia que ninguém vai ler
Confissões de insônia
Uma solidão que corrói
Um punhal nas costas
Que todo o dia dói.
Esqueça de esquecer
Melhor sobreviver de restos
Que morrer sem teu beijo
O gosto do impossível
O batom vermelho rock and roll.
CRiga.
domingo, 24 de março de 2024
Traição
A mão que eu pedi pra me acompanhar
Veio num sorriso de sinto muito, seu tempo já passou.
Procurar
quartos de solteiro.
Dar adeus a
amigos meus que não acreditam mais em mim.
Todo lugar é
curto.
Sujo,
pulverizado.
Todo tentar é
um murro na parede.
Tristeza que
a gente sente quando a insônia resolve a noite.
Um zumbi
perdido pedindo socorro
Ou apenas o
sono de volta dando corda aos meus fantasmas.
Manhã chega
ensolarada com um pé na porta
Um sol cheio
de marra rindo da sua cara.
Não adianta
querer tristeza...
O café e as
cartas sobre a mesa não te dão mais opção.
Acorda e
encara.
Ou dorme de
novo
alimentando a
solidão.
CRiga.
Um verão e um rock and roll
Quando o
verão acabar eu quero voltar
pra ela
A primavera.
Eu a vi
caminhando na praça
Com a graça
de uma doce solteirice
Num vestido
chita azul dançando na brisa.
Na tempestade
de um verão ela se casou,
ah...
Era inverno
no meu coração.
Caíram todas
as folhas de meu diário,
Nem era
outono, mas ensaiei esquecer.
Depois dali
me recolhi na lã, não havia
notícia de você
Nem no rótulo
do conhaque mais vagabundo.
A esperança
era só um filme de sessão da tarde,
Olhos azuis e
um sorriso que marca
Que mata aos
poucos como o perfume que acaba.
Paixão
inalcançável
Diva de todas
as intenções
De novamente
se apaixonar.
Mas eu era só um
guarda-chuva furado
Estatelado naquela
estação
Esperando
você desembarcar.
Você não vem,
o trem se foi
A estação
naufragou.
No trilho da
vida que segue
Aperto o play
do walkman –
Já faz muito
tempo
Muito tempo
Um longo e
solitário tempo
Um rock and roll.
CRiga.
Alice
Alice num
país cujas mulheres não querem ser maravilhas
Nem as frágeis
loirinhas vítimas de furacões.
Alice de
linhagem nobre
Ruiz, par de
Leminski,
Moça polida
que embevece as palavras.
O roqueiro Cooper
extravagante,
Alice acorrentada
em Seattle.
Vigiada, rotulada.
Alice não
escreve apenas aquelas cartas de amor.
Tia distante
que morreu tão cedo
Quando herdei
um Frank Zappa.
A cópia em
miniatura de Inezita
A Mônica
namorada do Eduardo.
Maria Alice
viu suas crianças crescerem
Como quem
observa quem vai e vem
A sorte que
tem
Quem tem um nome
tão bonito.
CRiga.
Frequência modulada
Havia o domingo nublado cujas nuvens escuras
Eram saudades combinando com a tua roupa
E com o que nunca foi.
Porque houve um sábado...
Compartilhar alegria e o som que vinha da alma
Celebrando os sonhos de uma canção perdida,
proibida,
Tua tribo ainda te condenará.
E eu, apenas desbravador de matas amazônicas,
Te levarei em meu barco no rio calmo da eterna
compreensão.
CRiga.
Feito virgem
Alma minha perdida há tempos imemoriais
Um rosto de porcelana eterno esculpido
entre negros cabelos
És tão lindamente menina de lábios
pequenos e vermelhos
A dançar metaleira Madonna nas noites
mais verdadeiras.
Eu te espero nos sinais
A impossibilidade também é uma forma de
amor.
CRiga.
Rock and roll romance
Foi
no momento exato em que ela, com a palma inteira da mão direita, em sua típica
e gótica delicadeza, mudou feito onda em tsunami o lado dos cabelos negros
sobre o rosto de boneca com aquele brilho do olhar.
CRiga.
sexta-feira, 22 de março de 2024
Sapato velho
Uma das piores sensações de um homem
É o estágio em que ele sente vergonha de seus sapatos.
É quando
toda a humildade que ele sempre cultivou
Não vale
mais que a falta de lustre e de couro.
Quando o engraxate se torna padre confessor.
CRiga.
quinta-feira, 21 de março de 2024
Escrever-te uma nova poesia
Renovar o
repertório.
Revolver a alma, a rima.
Armar-se da
calma
E devolver-se boas origens.
Relembrar
que um dia havia pureza baunilha
Sobre o fermento da falsa experiência.
Atirar
contra ti num bilhete este amor insistente
Bobo, bom
Eterno feito a poesia.
CRiga.
Separação
Há um instante em que morrer é bom,
CRiga.
Namoro
(foto de Cauê Rigamonti,
18.03.2018,
Parque Municipal Dom José,
Barueri)
Procura-se
alguém que diga:
“Se você
morrer, quero morrer também!”
Procuram-se
mãos dadas e sílabas
caladas
Num olhar
de praça de domingo sem ter o
que fazer.
Procuram-se
primeiras vezes e desvios
na rota do trabalho.
Entregar as
rosas vermelhas roubadas
daquela vizinha
Que fura a
bola dos meninos.
Procura-se
sabor morango
Sorvete
derretido de tanto só
olhar,
De tanto só
falar de amor.
CRiga.
Bairro
Tudo ficou difícil.
Futilidade
O alimento
no cateter de caráter fraco
São os
likes de rede social.
"Super
legal"
Tão banal.
A religião é o culto da personalidade incauta
Falsa
boneca de porcelana
Na selfie
cínica narcisa.
Super
facial
Superficial.
Nos
comentários destila o que um destilado estragado
Faz ao
playboyzinho de baladinha:
Só merda.
Só
superlativos
Relinchos disfarçados.
A moda é
ser tão fútil
Quanto a sacola ecologicamente
correta do supermercado
Que carrega só o papel higiênico usado.
CRiga.
Traí, tou na capa de revista
A plástica
beleza dá a falsa
impressão
De que o
mundo é que tá errado
Fora da
moda.
Fraqueza…
Foda é
aguentar likes, fakes
Banalidades
e “personas”.
Tanta curva
de personalidade
Tanta
vaidade de boneca de porcelana.
CRiga.
quarta-feira, 20 de março de 2024
Sobre salgadinhos e amores
Na festa grã-fina, ela pergunta ao garçom:
– Ah...
Posso levar dois pro meu companheirinho?
– Claro que sim, madame. Todos
nós amamos nossos pets, não é?
– Ah, não... é por meu namoradinho
mesmo.
Encabulado, o garçom foi gentil:
– Desculpe, madame. Leve mais, é
tão pouco...
– Não precisa, obrigada. Ele come
na minha mão.
CRiga.
Desmofando
Enfim
uma manhã que novamente te encontrei
Te
procurei como num sonho de juventude que vagava pela cidade
Em
ônibus lotados, calçadas sujas e noites despreocupadas.
Plantar
em ti as palavras que precisamos pra sobreviver
Nesse
louco mecanismo que assassina o lirismo.
Mesmo
que ninguém nos ouça nos labirintos da nova flor
Ninguém
merece conter a dor ou a alegria
De
amar mais uma vez, por mais um dia.
CRiga.
terça-feira, 19 de março de 2024
Outono pó
De tudo o que
plantei sobraram poeira
E uma solidão
que faz tão mal
Feito o frio
que vai chegar.
Polir, então,
o que ficou de bom.
A gente ainda
tem aquele vinho.
A gente ainda
acerta o caminho.
Junta forte as
mãos feito futuros namorados
E protege nossas
plantas que sobrevivem
E ainda crescem
no velho quintal.
CRiga.
Vulcões
Enquanto
desfilam dedos sorrateiros
Os primeiros
sonhos se incendeiam
Dentro da
alma em chamas vermelhas.
Tudo se perde no terremoto da carne!
Não há paz eterna,
só restam vestígios úmidos
A saliva doce
que escorre dos lábios tortos
Mortos depois
da erupção.
CRiga.
De outonos
Quando o
simples aguça a alma,
Fatal é a
força de só sobreviver.
Colher frutas
e bons amigos
Valem mais
que palavras frias
Perdidas numa
rede social.
CRiga.
Lirismo para um dia
É branca a
manhã do teu olhar, sereno
São várias as
possibilidades de um poema.
À mesa o café
recria a força, embevece o querer.
Alimento é
passar o dia inteiro com você.
CRiga.